Lula critica ‘tirania do veto’ na ONU e volta a falar de ‘genocídio’ em Gaza
Declaração foi realizada na Conferência Internacional de Alto Nível, em Nova York

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou nesta segunda-feira, 22, que a “tirania do veto” contraria a “razão de ser da ONU”, em crítica indireta aos Estados Unidos, que bloquearam todas as resoluções do Conselho de Segurança das Nações Unidas sobre Gaza. A declaração foi realizada na Conferência Internacional de Alto Nível, em Nova York, um dia antes do início da reunião de alto nível da Assembleia Geral da ONU.
“Naquela ocasião, nasceu a perspectiva de dois Estados, mas só um se materializou. O conflito entre Israel e Palestina é símbolo maior dos obstáculos enfrentados pelo multilateralismo. Ele mostra que a tirania do veto sabota a própria razão de ser da ONU, de evitar que atrocidades como as que motivaram a sua fundação se repitam”, disse ele, em referência à Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
“Um Estado se assenta sobre três pilares: território, população e governo. Todos têm sido sistematicamente solapados no caso palestino. Como falar em território diante de uma ocupação ilegal que cresce a cada novo assentamento? Como manter uma população diante da limpeza étnica a que assistimos em tempo real? E como construir um governo sem ponderar a Autoridade Palestina?”, acrescentou Lula.
No discurso, o petista também afirmou que “não há palavra mais apropriada para se descrever o que está ocorrendo em Gaza do que genocídio”. Mais de 45 mil palestinos foram mortos — entre eles, 440 por fome, incluindo 144 crianças — desde o início da guerra entre Israel e Hamas, em 7 de outubro de 2025. Lula disse que, em meio à escalada de violência, o Brasil decidiu aderir ao caso apresentado pela África do Sul à Corte Internacional de Justiça (CIJ).
O líder brasileiro também destacou que “os atos terroristas cometidos pelo Hamas são inaceitáveis” e que “o Brasil foi enfático ao condená-los”, mas contrapôs que “o direito de defesa não autoriza a matança indiscriminada de civis”, afirmando: “Nada justifica tirar a vida ou mutilar mais de 50 mil crianças. Nada justifica destruir 90% dos lares palestinos. Nada justifica usar a fome como arma de guerra, nem alvejar pessoas famintas em busca de ajuda”.
“A fome não atinge apenas o corpo, ela estilhaça a alma. O que está acontecendo em Gaza não é só o extermínio do povo palestino, mas uma tentativa de aniquilamento de seu sonho de nação”, continuou. “Tanto Israel, quanto a Palestina têm o direito de existir. Trabalhar para efetivar o Estado palestino é corrigir uma assimetria que compromete o diálogo e obstrui a paz. Saudamos os países que reconheceram a Palestina, como o Brasil fez em 2010. Já somos a imensa maioria dos 193 membros da ONU.”
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Reconhecimento da Palestina
Israel sofre pressão da comunidade internacional. No domingo, 21, o primeiro-ministro do Reino Unido, Keir Starmer, anunciou o reconhecimento do Estado da Palestina para “reviver a esperança de paz entre palestinos e israelenses, e uma solução de dois Estados”. A notícia foi celebrada pelo embaixador da Palestina, Husam Zomlot, que destacou que a legitimação ocorre “em meio ao genocídio em curso por Israel em Gaza e à limpeza étnica na Cisjordânia”.
O Canadá seguiu os passos do Reino Unido. Nas redes sociais, o primeiro-ministro Mark Carney afirmou que “o Canadá reconhece o Estado da Palestina e oferece sua colaboração para construir a promessa de um futuro pacífico, tanto para o Estado da Palestina como para o Estado de Israel”. Com isso, Ottawa e Londres tornam-se os primeiros membros do G7, grupo que reúne os países mais industrializados do mundo, a validar o Estado palestino.
A Austrália “reconheceu formalmente o independente e soberano Estado da Palestina” e “reconhece as aspirações legítimas e antigas do povo palestino de ter um Estado próprio”, disse o primeiro-ministro Anthony Albanese ainda no domingo, 21, acompanhando os outros dois países. Portugal também fez o anúncio e salientou que “o reconhecimento do Estado da Palestina é a concretização de uma linha fundamental, constante e essencial da política externa portuguesa”.
Após a decisão dos quatro países, o presidente da francês, Emmanuel Macron, anunciou nesta segunda-feira, 22, o reconhecimento oficial por parte da França do Estado da Palestina, fazendo um apelo geral: “Chegou a hora de pôr fim à guerra, aos bombardeios em Gaza, aos massacres e à fuga da população. Chegou a hora pois a emergência está em toda parte. Chegou a hora da paz porque estamos a momentos de não conseguir mais compreendê-la”. Mais de 140 países-membros da ONU, incluindo o Brasil, já reconhecem o Estado da Palestina.