O presidente da França, Emmanuel Macron, reorganizou nesta quinta-feira, 20, parte dos principais ministérios domésticos do governo, incluindo as pastas de educação, habitação e assuntos urbanos. A decisão se dá após manifestações contra o assassinato de um jovem de ascendência argelina e marroquina pela polícia tomarem conta das ruas do país.
Apesar da queda de aprovação desde a aprovação da controversa reforma previdenciária, que aumentou a idade de aposentadoria de 62 para 64 anos, Macron busca a reeleição. Em abril, a popularidade do líder francês alcançou marcas próximas as da crise dos coletes amarelos, quando protestos contra o aumento do preço dos combustíveis foram realizados em 2018. Apenas 29% da população enxerga o governo com bons olhos, enquanto 23% diziam o mesmo há cinco anos.
A situação de Macron piorou ainda mais com o assassinato a tiros de Nahel M, um adolescente de 17 anos, durante uma parada policial em Nanterre, comuna próxima a Paris, em junho. Uma série de manifestações se espalharam, então, pelas principais cidades da França, enquanto mais de 40 mil agentes de segurança foram mobilizados para conter a turbulência social, que incluiu carros em chamas e barricadas. Como consequência, centenas de franceses foram presos.
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Às vésperas das trocas ministeriais, Macron participou de um encontro com legisladores e defendeu que, ao contrário de impor respostas imediatas, o governo deveria examinar em “em profundidade” o episódio. Ele afirmou, ainda, que a estruturação de uma nova política não deve ser baseada na regeneração urbana e no investimento em mais policiais.
“Estamos em um espírito de continuidade, mas não vamos fingir que não houve algo que chocou o país por algumas noites”, disse na quarta-feira.
Principal alteração, o Ministério da Educação foi assumido por Gabriel Attal, ministro do Orçamento. Popular entre os apoiadores de Macron, ele ingressou no governo em 2018, rapidamente ganhando a fama de perspicaz e astuto como porta-voz do presidente francês. Em seguida, foi nomeado para a pasta orçamentária. Pap Ndiaye, especialista em estudos negros, foi retirado do cargo em meio aos frequentes ataques da direita.
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Nova aposta de Macron, Sabrina Agresti-Roubache foi escolhida para a reestruturação do Ministério de Assuntos Urbanos. A legisladora de ascendência norte-africana atuará ao lado do prefeito de Dunquerque, Patrice Vergriete, que comandará o Ministério da Habitação.
Conhecido pela atuação responsável na saúde pública de Paris ao longo da pandemia de Covid-19, Aurelien Rousseau foi nomeado para o Ministério da Saúde. Ele é, inclusive, o antigo chefe de gabinete da primeira-ministra Elizabeth Borne, que não teve seu cargo afetado mesmo com a pressão da oposição e de governistas. O ministro das Finanças, Bruno Le Maire, a ministra das Relações Exteriores, Catherine Colonna, e o ministro do Interior, Gerald Darmanin, também permaneceram nas respectivas pastas.
Com a perda da maioria parlamentar, o presidente francês precisará aprovar legislações projeto por projeto. Com o rearranjo dos ministros, Macron diminui espaço de representantes da sociedade civil, uma de suas promessas de 2017, e privilegia figuras experientes politicamente, que apresentam passagens pelo Parlamento ou por prefeituras.