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Maduro toma posse e ataca o ‘fascismo’ de Jair Bolsonaro

OEA considera governo ilegítimo, Paraguai rompe relações com Caracas; Brasil ainda não se manifestou

Por Da Redação
Atualizado em 10 jan 2019, 17h39 - Publicado em 10 jan 2019, 17h04

Nicolás Maduro desafiou a comunidade internacional e assumiu seu terceiro mandato como presidente da Venezuela nesta quinta-feira, 10. Em discurso na Corte Suprema de Justiça, ele atacou seus adversários internos e externos e chamou colega brasileiro, Jair Bolsonaro, de “fascista”.

“A direita venezuelana contaminou com seu fascismo a direita latino-americana. Vejamos o caso do Brasil, com o surgimento de um fascista como Jair Bolsonaro”, afirmou.

Maduro apresentou-se e a seu país como vítimas do “imperialismo” americano, do Grupo de Lima, fórum de 14 países, entre os quais o Brasil, ao qual se referiu como “cartel de direita” e da oposição venezuelana. “A Venezuela é o centro de uma guerra global, dominada pelo imperialismo dos Estados Unidos”, declarou.

A eleição de Maduro, em maio de 2018, foi considerada ilegítima pelo Grupo de Lima, Estados Unidos e União Europeia. Em uma nova declaração, na última quarta-feira, o Grupo de Lima pediu ao venezuelano que não tomasse posse e repassasse as funções do executivo para a Assembleia Nacional, que o mesmo Maduro empurrou ao ostracismo e substituiu pela Assembleia Constituinte.

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O Grupo de Lima ameaçou com a imposição de sanções contra autoridades e empresas venezuelanas, como os Estados Unidos já fazem, e liberou seus membros para romper suas relações diplomáticas com Caracas. Até o momento, o Itamaraty não se manifestou sobre como reagirá ao desafio de Maduro.

Enquanto Maduro ainda fazia seu discurso de posse, a Organização dos Estados Americanos (OEA) aprovou resolução que declara ilegítimo o novo governo da Venezuela. O presidente do Paraguai, Mario Abdo Benítez, anunciou a ruptura de relações diplomáticas com Caracas, o fechamento de sua embaixada e a retirada de seus diplomatas. O governo do Peru chamou a Lima seu último diplomata ainda atuante em sua embaixada na Venezuela.

Como meio de conferir legitimidade a seu novo mandato, o cerimonial da Presidência venezuelana destacou a presença dos chefes de Estado e representantes de governos que apoiam Maduro. Estiveram na cerimônia os presidentes de Cuba, Miguel Díaz-Canel, da Bolívia, Evo Morales, da Nicarágua, Daniel Ortega, entre outros participantes da Aliança Bolivariana de Nações (Alba).  Seu regime conta com o apoio da China, da Rússia e da Turquia, cujos líderes enviaram representantes à posse.  

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“Quero agradecer aos representantes dos 94 países que respeitam a Venezuela”, afirmou. “Somos uma democracia de verdade, profunda, popular. E eu, Nicolás Maduro, sou um presidente democrático de verdade, profundamente.”

Maduro atacou especialmente o Grupo de Lima, ao qual acusou de distorcer o direito internacional e atuar como “satélite” dos Estados Unidos, e se disse vítima de “intolerância ideológica”. “Como loucos, os governos satélites do imperialismo norte-americano saem gritando e ameaçando (a Venezuelana). Eu lhes digo: nós continuamos aqui com o nosso espírito revolucionário”, desafiou.

“Já propus, em várias oportunidades, que fosse convocada uma reunião cúpula de líderes da América Latina e do Caribe para discutirmos cara cara todos os temas. Ratifico hoje minha proposta  para debatermos francamente e chegarmos a acordos que nos permitam superar esse clima de intolerância e agressão ideológica que agride os sonhos dos libertadores.”

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Em sua argumentação, o presidente venezuelano disse que seu país é vítima, desde o início de 2018, de um “complô internacional” para desestabilizá-lo. Disposto a ir a detalhes, acusou o encarregado de negócios da embaixada americana de ter visitado todos os candidatos da oposição para as eleições presidenciais de maio passado, entre os quais Henry Ramos Allup, presidente da Assembleia Nacional.

Considerando previamente as eleições como fraudulentas, a Mesa da Unidade Democrática, o bloco de oposição do país, decidiu não apresentar candidatos para não legitimar o resultado do pleito.

“Gostaria de ter enfrentado e derrotado Allup nas eleições de 20 de maio, mas sabemos que embaixadas do exterior ameaçaram a ele e sua família, e ele retirou sua candidatura”, alegou Maduro. “Outros pré-candidatos também foram castigados com essa sanção que o império impõe a todas as nações do mundo”, acusou.

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Maduro toma posse para seis anos de mandato em um momento delicado para seu país. A população da Venezuela vive há pelo menos cinco anos sob uma ditadura que sufoca a oposição e mantém mais de 1.300 políticos adversários na prisão, sem contar os exilados. Com a queda da produção e dos preços do petróleo, o país entrou em colapso econômico.

Sua capacidade de importar alimentos e remédios foi praticamente anulada, o que resultou em desabastecimento permanente e colapso do sistema de saúde. Mais de 3 milhões de venezuelanos deixaram o país desde 2015, segundo a Organização das Nações Unidas, na maior crise humanitária da América do Sul. Nesse contexto, Maduro preferiu escudar-se no apoio da Rússia, da China e da Turquia, adversários em várias esferas dos Estados Unidos.

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