Maduro: um basta ao ditador
Ameaça à Guiana é uma provocação absurda que não pode ser diminuída
Pouco maior que o estado do Ceará, com 120 000 habitantes concentrados na costa caribenha, a região de Essequibo é uma daquelas partes do continente que parecem não pertencer a lugar nenhum. Mas pertence. Uma briga territorial entre Guiana e Venezuela, iniciada na década de 1880, caminhava lenta e burocraticamente, quase esquecida. Dez anos atrás, contudo, começaram a ser encontradas grandes jazidas de petróleo no território. Cautelosa, em 2018 a ONU levou o caso para uma Corte Internacional, onde repousaria. Na semana passada, o presidente Nicolás Maduro não quis nem saber, a seu modo ditatorial: marcou um plebiscito para, na prática, referendar a reivindicação sobre o naco de terra. Apelou a um suposto sentimento patriótico da nação para melhorar sua popularidade, como fizeram, por exemplo, os generais da Argentina ao invadir as Malvinas, no epílogo da ditadura. Houve supostos 96% de aprovação para a maluquice da anexação. Maduro mostrou o mapa da configuração que imagina e enviou para o Legislativo um projeto de lei de criação do novo estado. Trata-se de uma provocação absurda que não pode ser diminuída. Evidentemente, o presidente da Guiana, Irfaan Ali, considerou o gesto uma “ameaça” à paz. Lula, sempre na corda bamba do namoro com a Venezuela, desta vez foi menos complacente: “Se tem uma coisa que a América do Sul não tá precisando agora é de confusão. (…) Se tem uma coisa que nós precisamos para crescer e para melhorar a vida do nosso povo é a gente baixar o facho”. Isso ainda é pouco. Já passou da hora de baixar o facho de Nicolás Maduro.
Publicado em VEJA de 8 de dezembro de 2023, edição nº 2871