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Mãe de brasileira assassinada na África do Sul luta por guarda do neto

Valéria Franco foi assassinada brutalmente pelo marido sul-africano, que confessou o crime depois de um mês

Por Julia Braun Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 26 jun 2018, 16h22 - Publicado em 21 jun 2018, 11h46

Um caso de feminicídio na África do Sul chamou a atenção das autoridades locais pela frieza e brutalidade com que o crime foi cometido. A brasileira Valéria de Almeida Franco, de 30 anos, foi assassinada pelo marido sul-africano no início de fevereiro em Margate, na costa leste do país.

Agora, sua mãe Silvana, que mora no Rio de Janeiro, batalha na justiças sul-africana para conseguir a guarda do filho de quatro anos do casal, Johann Oswald Franco Schmid, e poder trazê-lo para o Brasil.

Johann vive atualmente com a tia, depois que seu pai, Johan Oswald Schmid, de 47 anos, confessou ter estrangulado Valéria até a morte com as mãos durante uma discussão. O sul-africano cometeu o crime na frente do filho, que entrou no quarto no momento da briga.

Após o assassinato, Schmid manteve o corpo nu da mulher no armário de sua casa, até comprar um freezer para escondê-lo. Depois de quase um mês, o engenheiro decidiu confessar o crime e contratou uma advogada para auxiliá-lo. Antes de se entregar, deixou o filho aos cuidados da irmã, quer mora em Johanesburgo.

Uma primeira audiência relacionada ao caso já foi marcada para 2 de julho, porém o julgamento oficial pelo homicídio ainda não tem data para acontecer.

O assassinato

O crime aconteceu em 9 de fevereiro, na residência do casal. Segundo Silvana, Schmid pode ter matado sua filha para impedir que ela o deixasse e levasse o filho para o Brasil.

A mãe de Valéria conta que os dois brigavam muito quando ainda moravam no Rio de Janeiro, principalmente por conta de ciúmes. A moça chegou, inclusive, a abrir três processos contra Schmid por ameaças e pediu ordem de restrição para mantê-lo longe dela, mas deu baixa na medida quando ficou grávida e decidiu se mudar para a África do Sul.

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O marido também era violento e bebia muito. Silvana conta que a filha já chegou a ligar para ela de madrugada enquanto eles discutiam pedindo ajuda para tomar conta do filho, que na época ainda era um bebê. Ela também mostrava hematomas deixados por Schmid em seu braço.

Os documentos relacionados aos incidentes já estão sendo recolhidos para serem adicionados ao processo de assassinato em Margate.

Relacionamento

Valéria e Johan se conheceram no Rio de Janeiro e namoraram por aproximadamente 3 anos antes do nascimento do filho, durante os quais romperam várias vezes. O sul-africano é engenheiro, já foi casado antes de conhecer Valéria e tem uma filha.

Trabalhou em uma multinacional no Brasil até a empresa fechar. Foi quando eles decidiram deixar o país. Valéria atuou como auxiliar de produção, mas depois que conheceu o marido parou de trabalhar.

Quando descobriu que a brasileira estava grávida, Schmid insistiu que ela abortasse a criança e terminou o namoro. Porém, assim que soube que era um menino se retratou e os dois voltaram a se relacionar.

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Se mudaram oficialmente para a África do Sul em novembro de 2013. Em Margate, os dois se casaram, tinham casa e trabalhavam em sua própria empresa de jardinagem.

De acordo com Silvana, Schmid diz estar arrependido pelo assassinato de sua própria mulher, mas conta com frieza como cometeu o crime e conservou o corpo em um freezer.

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Segundo a mãe de Valéria, Johan já era violento com a moça antes do nascimento do filho do casal (//Arquivo pessoal)

“Quando fui informada sobre tudo entrei em depressão, fiquei trancada no quarto”, conta a mãe Valéria. “Mas sabia que tinha que me reanimar e ir até a África do Sul reconhecer o corpo da minha filha. ”

Silvana trouxe o corpo para o Brasil, mas antes fez uma visita ao presídio para ver Schimid. “Ele falou em arrependimento, mas não chora”, diz. “Ele me pediu perdão, mas faz a irmã impedir que eu leve meu neto para o Brasil. Não está arrependido coisíssima nenhuma”.

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A pena para assassinatos na África do Sul é de no mínimo 15 anos de prisão e pode chegar à prisão perpétua. A Justiça no país é lenta, por isso o caso de Johan pode demorar entre 6 meses e 4 anos para ser concluído.

A luta pela guarda

O caso da guarda do menino Johann deve começar a ser julgado nos próximos meses, por uma divisão provincial do Supremo Tribunal sul-africano. Silvana luta contra a tia do menino, irmã de Schmid, que se recusa a permitir o contato periódico entre a avó e o neto.

“Eu amo esse menino, ele é um pedacinho da minha filha que restou”, afirma a avó, que também entrou com um processo pela guarda na Defensoria Pública da União no Rio de Janeiro.

Segundo o advogado de Silvana na África do Sul, Emile Myburgh, a mulher que cuida de Johann atualmente tentou esconder de um tribunal da Corte de Crianças de Johanesburgo detalhes sobre o crime cometido pelo irmão e sobre a relação do menino com a família no Brasil, para conseguir a guarda provisória.

Além disso, ela alega que a criança fala mal da mãe falecida e não entende mais português, o que impossibilitaria qualquer tipo de contato.

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“Eles estão acabando com a memória da mãe, querem acabar com o Brasil na vida dele”, afirma Myburgh. “Mas a lei sul-africana diz que uma criança tem o direito de ter laços com sua cultura e família estendida se for de seu melhor interesse”, completa.

Johann se mudou com os pais para a África do Sul com apenas 5 meses. Segundo a avó, Valéria chegou a fazer visitas ao Rio de Janeiro desde então e falava constantemente com a família por mensagens e ligações telefônicas.

Após uma primeira audiência na Corte de Crianças de Johanesburgo, as duas partes concordaram em manter o contato semanal de Silvana com o neto, porém a família sul-africana insiste que os dois conversem apenas 3 minutos por semana. Também negaram uma visita da avó ao menino em julho.

“Eu imploro para falar com meu neto, mas ela não deixa”, diz Silvana. “Ela diz que minha filha é culpada de tudo que aconteceu, que ela tentou matar ele antes”, conta.

Valéria e a tia de seu filho nunca tiveram boas relações. Em uma carta enviada para a cunhada após uma discussão, a sul-africana chegou inclusive a desejar uma morte bem dolorosa e lenta para a brasileira, segundo Silvana.

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Bens e inventário

A família da brasileira já deu entrada nos processos para fazer o inventário de Valéria. Muitos bens da moça sumiram após seu assassinato, entre eles seus documentos, celular e roupas.

A irmã de Johan Schmid confessou que está com algumas das coisas, porém, segundo Myburgh, por volta de 150.000 reais que Valéria havia levado para a África do Sul ainda estão desaparecidos.

“É possível que o marido tenha sacado todo o dinheiro para pagar a defesa dele, mas isso é especulação”, diz o advogado.

Todos os bens de Valéria e Johan serão incluídos no inventário e divididos entre o marido e Johann, o filho do casal, já que eles se casaram em comunhão de bens.

A embaixada do Brasil em Pretória informou que tem prestado toda a assistência consular possível à família da vítima. Em comunicado, o Itamaraty afirmou também que auxiliou os familiares no “processo funerário e na emissão dos documentos pertinentes”.

“Quanto ao processo de guarda do filho menor da cidadã falecida, a avó do menor recebeu orientação jurídica por parte da embaixada, a qual segue acompanhando os desdobramentos do caso junto aos familiares, às autoridades sul-africanas e aos profissionais atuantes no caso”, informaram as autoridades brasileiras.

A família de Valéria agora busca arrecadar 100.000 reais para o processo de guarda de Johann, por meio de um site de vaquinhas online. A tia do menino pediu uma caução – depósito judicial para o qual ela não tem recursos. A avó Silvana também precisa fazer muitas viagens para a África do Sul a fim de comparecer a audiências.

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