Mais de 37 mil palestinos buscam abrigo após ataques israelenses na Cisjordânia
Forças Armadas de Israel esvaziaram quatro campos de refugiados e programaram demolições, em operação que diz buscar terroristas escondidos

Uma invasão-relâmpago das Forças Armadas de Israel a Jenin, terceira maior cidade da Cisjordânia e lar de um dos maiores campos de refugiados do território palestino, que começou no último final de semana com o avanço de tanques, já deslocou mais de 37 mil pessoas, segundo estimativas das Nações Unidas. Agora, centenas de milhares de palestinos buscam abrigo em meio à ofensiva que o governo israelense prometeu estender até 2026.
As operações na Cisjordânia, que tiveram início logo após o cessar-fogo em Gaza, em 19 de janeiro, e foram se intensificando desde então, tem o objetivo declarado de sufocar grupos militantes que atuam na região a serviço do governo iraniano, segundo Israel. Na prática, porém, os ataques esvaziaram quatro campos de refugiados — locais que nasceram para abrigar palestinos expulsos de suas casas na guerra de 1948, que eclodiu em torno da criação do estado judaico, e desde então se transformaram em cidades ou bairros.
Desabrigados
Muitos fugiram às pressas, à pé e sem fazer as malas, enquanto militares israelenses destruíram estradas, prédios e redes de água e eletricidade nos quatro campos. O ministro da Defesa israelense, Israel Katz, disse na segunda-feira 24 que suas tropas estavam preparadas para ocupar a área por um ano, e impediriam que os palestinos retornassem ao local.
Isso deixa milhares de pessoas que vêm das áreas mais pobres da Cisjordânia em apuros. As que não podem contar com amigos ou familiares para recebê-las são forçadas a alugar moradias temporárias em vilas vizinhas. Algumas estão hospedadas em dormitórios universitários, outras em abrigos improvisados. O Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários afirmou que há uma “necessidade urgente de assistência financeira” para 4 mil famílias conseguirem alugar casas.

A ajuda, porém, é limitada. A Autoridade Palestina, que governa algumas partes da Cisjordânia (outras vivem sob regime militar israelense e são ocupadas por colonos judeus) está sem dinheiro, enquanto a principal agência das Nações Unidas para os palestinos, a UNRWA, teve as ações restritas por legislações israelenses.
Maior deslocamento desde 1967
Durante a Guerra dos Seis Dias, em 1967, cerca de 250 mil palestinos foram forçados a deixar a Cisjordânia quando Israel tomou o território, junto com Jerusalém Oriental e a Faixa de Gaza.
Esta também é a primeira vez desde 2002 que os israelenses avançam com tanques, e tão profundamente, em Jenin. Após anunciar uma repressão generalizada contra militantes da Cisjordânia em 21 de janeiro — apenas dois dias após o início de um cessar-fogo com o Hamas em Gaza — as Forças de Defesa de Israel (IDF, na sigla em inglês) caíram sobre os campos de refugiados de Jenin, Tulkarem, Far’a e Nur Shams, conhecidos por abrigarem terroristas em meio a gente comum.
O menor, Nur Shams, com uma população de aproximadamente 13.700, viu várias pessoas deslocadas retornarem na quarta-feira 27 para resgatar o que pudessem de suas casas depois do exército israelense divulgar mapas de demolições planejadas. Questionados sobre os motivos das demolições, os militares disseram que não poderiam discutir planos operacionais.

No campo de Jenin, mais de 100 casas já tombaram, segundo a agência de notícias The Associated Press. Em Tulkarem, outras 100 unidades habitacionais e pelo menos 300 lojas foram derrubadas e pelo menos 10 casas, incendiadas, de acordo com o centro comunitário local Awda.
O deslocamento também despertou memórias da guerra de 1948, quando cerca de 750 mil palestinos foram expulsos ou fugiram de suas casas na região que hoje é Israel. Transferências forçadas de população são proibidas pela lei internacional e, se implementadas como política, podem ser consideradas um crime de guerra.
O esvaziamento dos campos da Cisjordânia acontece ao mesmo tempo em que o governo de Israel abraçou o plano do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, para expulsar a população da Faixa de Gaza permanentemente. Menos claro está o apoio à construção do “Resort Gaza” de propriedade americana, mega plano imobiliário no estilo de uma Riviera que o chefe da Casa Branca apresentou no mês passado e reforçou com a publicação, na quarta-feira 27, de um bizarro vídeo gerado por inteligência artificial.