A primeira-ministra do Reino Unido, Theresa May, afirmou nesta sexta-feira que deseja chegar a um acordo com a União Europeia para continuar associada às agências do bloco, porém admitiu que os britânicos enfrentarão um futuro pós-Brexit cheio de “altos e baixos”.
“Estamos deixando o mercado único, a vida vai ser diferente”, disse ela em um discurso em Londres. O acesso aos mercados de nações europeias e de outros continentes será “menor do que é agora”, reconheceu.
May, contudo, afirmou que a estratégia do seu governo para a próxima fase das negociações com a União Europeia é explorar maneiras de como o Reino Unido pode continuar associado a organismos europeus, como a do Remédio (EMA), a Agência Química Europeia e a Agência Europeia de Segurança na Aviação.
A premiê disse que estaria disposta a se submeter à regulamentação dessas agências para garantir a sua permanência após o Brexit. Além disso, se ambas as partes chegarem a um acordo nesse sentido, o governo de Londres concordaria em fornecer “uma contribuição financeira apropriada” a esses organismos.
May acrescentou, além disso, que se a UE “negociar uma filiação associada” do Reino Unido a esses organismos europeus, o país poderia, por sua vez, continuar proporcionando seu “conhecimento técnico”.
“Em terceiro lugar, a permanência associada poderia permitir que as empresas do Reino Unido resolvessem certos desafios relacionados às agências mediante tribunais britânicos, ao invés de fazê-lo através da Corte Europeia de Justiça”, disse.
Irlanda do Norte
May voltou a afirmar nesta sexta que não aceitará uma “fronteira dura na Irlanda”. “Como primeira-ministra, não deixarei o Brexit atrapalhar o progresso alcançado na Irlanda”, afirmou. A premiê disse também que “nenhum acordo é melhor do que um acordo ruim”.
Achar uma solução para o impasse da fronteira entre as Irlandas tem sido, ao longo das negociações entre a UE e o Reino Unido, desafiador. Por estar separada geograficamente do resto do Reino Unido, a Irlanda do Norte divide uma fronteira terrestre com a República da Irlanda, a qual, por sua vez, é membro da UE.
A Irlanda do Norte tem um histórico de conflitos violentos iniciados na década de 1960 nos quais a população se dividiu entre protestantes a favor de permanecer no Reino Unido e católicos que queriam se juntar à República da Irlanda. O Acordo de Belfast, assinado em 1998, selou a paz ao estabelecer o compartilhamento de poder entre católicos e protestantes, e a existência de uma fronteira alfandegária causa preocupações no governo com um possível retorno da violência.
Para evitar essa “fronteira dura”, May propôs duas possibilidades: a elaboração de uma “parceria aduaneira” ou um “acordo aduaneiro altamente simplificado”. Na parceria, tanto a UE quanto o Reino Unido se ajudariam mutuamente na fronteira, o que permitiria ao país controlar tarifas alfandegárias. Nenhuma das propostas foi exatamente detalhada.
Na última quarta-feira, a Comissão Europeia propôs que a Irlanda do Norte continuasse sendo considerada parte do território aduaneiro europeu. Isso significa, na prática, separar as leis econômicas da Irlanda do Norte do restante do Reino Unido. A resolução foi prontamente rejeitada por Downing Street.
Hoje, May disse novamente que a proposta está fora de cogitação. “Nenhum dos lados pode ter exatamente o que quer no pós-Brexit”, ponderou.
Questionada sobre se o Brexit “valeu a pena”, a premiê afirmou que não existe a possibilidade de o Reino Unido repensar a decisão de sair da UE. “O povo escolheu e cabe ao Parlamento implementar”.
(Com EFE e Estadão Conteúdo)