A primeira-ministra britânica, Theresa May, vai comandar o boicote dos parlamentares de seu próprio partido às propostas alternativas a seu acordo com a União Europeia sobre o Brexit. A iniciativa tem o objetivo de forçar o Parlamento a aceitar seu acerto, quando submetido pela quarta vez a votação.
Nas três votações anteriores, a maioria na Câmara dos Comuns o rejeitou – na última delas, na sexta-feira 29, por 286 votos a favor e 344 contra. Na ocasião, a primeira-ministra demonstrou uma aparente isenção em relação às futuras decisões do Parlamento.
May afirmou que iria apenas se “envolver construtivamente” nos futuros votos indicativos, comandados por um grupo pluripartidário de parlamentares, liderados pelo ex-ministro conservador Oliver Letwin. Mas fontes de Downing Street afirmaram ao jornal The Guardian que os parlamentares governistas, fortemente divididos, estão sendo pressionados pela primeira-ministra a se absterem.
May também exige deles que se oponham à moção que propõe o controle total da Câmara dos Comuns sobre a agenda do Brexit. A manobra da líder britânica tem o propósito de de forçar o Parlamento a uma quarta votação de seu acordo até o dia 12, quando termina o prazo dado por Bruxelas. Se não houver um acerto aprovado, o Reino Unido deixará o bloco de maneira brusca.
Em uma entrevista à BBC, o líder do Partido Conservador, Julian Smith, criticou a postura de May. Smith afirmou que o atual gabinete é o “mais indisciplinado a ocupar o poder na história da política britânica.”
“Deixarei para os historiadores a tarefa de fazer julgamentos sobre a história”, defendeu o porta-voz da primeira-ministra, em resposta ao comentário de Smith.
Nesta segunda-feira, 1º, os deputados britânicos devem discutir as opções para o chamado “soft Brexit”, um divórcio menos radical da União Europeia. Entre as propostas em votação estão a criação de uma união aduaneira remodelada entre os dois lados e a organização de um novo referendo sobre os termos da saída do Reino Unido. Na semana passada, as oito emendas alternativas postas em votação foram recusadas.
Se os parlamentares apoiarem a manutenção das relações comerciais do Reino Unido com a União Europeia, May deve enfrentar o dilema de abraçar ou não a decisão. Em ocasiões anteriores, ela se opôs à permanência do Reino Unido em uma união aduaneira e defendeu uma política econômica autônoma do governo britânico.
Paciência no limite
O presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, afirmou no domingo 31 que a União Europeia tem “muita paciência” com os britânicos em relação à questão do Brexit, mas avisou ela está se “esgotando.”
“Tivemos muita paciência com nossos amigos britânicos, mas a paciência está se esgotando. Eu gostaria que dentro de algumas horas ou de alguns dias o Reino Unido chegue a um acordo sobre os passos a seguir”, declarou Juncker durante uma transmissão na emissora pública italiana Rai 1.
“Até agora, sabemos para que medidas o Parlamento britânico diz não. Mas não sabemos para o que diz sim”, acrescentou.
Sobre a possibilidade de um novo referendo, que já é apoiado por 6 milhões de britânicos em um abaixo-assinado virtual, Juncker considerou que essa questão “diz respeito exclusivamente aos britânicos.”
Aos líderes da União Europeia, ainda na sexta-feira 29, May assegurou que continuará a “advogar por um Brexit ordenado” mas reconheceu a necessidade de chegar a um acordo sobre um “caminho alternativo.”
O dia 29 foi o prazo original para o início do Brexit, apoiado por 52% dos eleitores britânicos no referendo de 2016. Se nenhum plano for aprovado pelo Parlamento e endossado pela União Europeia até o dia 12 de abril, a nova data marcada para o Brexit, uma saída sem acordo se torna o cenário mais provável, advertiu a primeira-ministra.
Uma alternativa para evitar a saída abrupta seria a renuncia de May que, em princípio, permitiria ao novo governo britânico negociar um adiamento mais longo. Mas isso forçaria o Reino Unido a participar das eleições para o Parlamento Europeu no final de maio. Uma nova reunião extraordinária da União Europeia foi convocada para o próximo dia 10 de abril para tratar do cenário.
De acordo com o tabloide britânico The Sun, 170 deputados conservadores, incluindo uma dúzia de ministros, escreveram a May exigindo que o Reino Unido não peça uma extensão de prazo e evite assim a participação nas eleições europeias, para não complicar ainda mais a situação política.
(com AFP)