Lyubov, uma ucraniana de 57 anos da cidade de Kherson cujo sobrenome e rosto não foram publicados pela imprensa, relembrou a deputados da Câmara dos Estados Unidos nesta quarta-feira, 19, as agressões sofridas por militares russos no início deste ano. Por mais de um ano, a mulher trabalhou como contadora e viveu sob a ocupação russa.
Ao Comitê de Relações Exteriores da Câmara, ela afirmou que soldados russos entraram à força em sua casa em janeiro sob a justificativa de que estariam à procura de armas. Eles confiscaram um mapa e uma bandeira do país, ímãs de lembrança com imagens da Ucrânia e um símbolo com fita azul e amarela e afirmaram que os pertences encontrados eram provas contra ela.
De acordo com Lyubov , os soldados levaram ela para uma “câmara de tortura” onde foi mantida por cinco dias sendo espancada, forçada a se despir, cortada com uma faca e ameaçada de estupro e assassinato.
“Eu também fui levada para o campo e eles me espancaram de novo e colocaram uma arma perto da minha cabeça e atiraram, como se estivessem me executando”, contou ela. “Também me forçou a cavar minha própria cova”.
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Além disso, ela disse que viu outras pessoas sendo torturadas, “tiradas com sacos plásticos pretos na cabeça”. Apesar de afirmar se preocupar com os outros torturados, ela afirmou que não tem “certeza se ainda estão vivos”.
Depois das sessões de tortura, as forças russas deixaram ela ir, porém afirmaram que ela voltaria posteriormente. Ao chegar em casa, Lyubov contou que havia sido saqueada e até as medalhas de seu pai foram levadas. Ela conseguiu fugir de Kherson e foi para os Estados Unidos para ficar com a filha, mas espera poder voltar para a Ucrânia.
“Estou contando minha história, e há outras pessoas que estão sendo roubadas, estupradas e espancadas nesses territórios agora”, disse ela. “Esses crimes terríveis precisam ser interrompidos”, acrescentou.
O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos já catalogou milhares de casos de vítimas civis junto com casos de tortura, estupro e detenção arbitrária no conflito da Ucrânia entre agosto de 2022 e janeiro de 2023, afirmando que a situação é “terrível”.
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Atualmente, a Rússia ocupa áreas da região sul de Kherson. No entanto, em novembro de 2022, as tropas russas foram expulsas da cidade principal de Kherson e da parte oeste da região.
Segundo o procurador-geral ucraniano, Andriy Kostin, o seu escritório registrou cerca de 80 mil incidentes de possíveis crimes de guerra. Porém, até o momento, apenas 31 russos foram condenados por crimes de guerra em tribunais ucranianos.
Kostin afirmou aos legisladores do Comitê de Relações Exteriores da Câmara americana nesta quarta-feira que seu escritório também identificou 310 possíveis autores dos crimes e “concluiu casos contra 152 possíveis criminosos de guerra”.