A capa atual da revista Time traz uma montagem onde uma pequena menina vestida com um casaco rosa chora em frente ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump sob os dizeres “Bem-vindo à América”. A escolha dos editores da revista reflete as duras críticas contra a política de tolerância zero do atual governo americano que, até o momento, resultou na separação de mais de 2.000 crianças de suas famílias.
A foto original foi tirada no local em que a menina e sua mãe, originárias do país centro-americano de Honduras, foram paradas pela Patrulha da Fronteira. A menina chora encarando o guarda que revistava sua mãe. A imagem é do fotógrafo John Moore, da Getty Images, que cobre a fronteira há anos. O fotógrafo contou à Time a história por trás da imagem.
“Quando o policial disse à mãe para colocar sua filha no chão, eu pude ver o olhar nos olhos da menininha”, disse Moore à Time. “Assim que seus pés tocaram o chão, ela começou a gritar.” O fotógrafo contou acreditar que essas famílias não tinham conhecimento de que seriam separadas ao cruzarem a fronteira.
Apesar de cobrir o tema há anos e já ter ganhado o Prêmio Pulitzer, ele disse se emocionar com coisas assim, principalmente por ser pai de três crianças. “Este foi difícil para mim. Assim que acabou [a inspeção], elas foram colocadas em uma van. Eu tive que parar e respirar fundo ”, ele disse. “Tudo o que eu queria fazer era buscá-la. Mas eu não pude”.
A foto se tornou uma das imagens emblemáticas de uma onda de reportagens sobre a política de separação de famílias do governo Trump. Dezenas de jornais e revistas de todo o mundo publicaram a foto, aprofundando a revolta que levou o presidente a recuar na quarta-feira 20 e dizer que as famílias não serão mais separadas.
Mãe e filha estão juntas
O pai da pequena hondurenha, que se chama Yanela, foi capaz de reconhecer a filha quando viu a foto de Moore na televisão. À imprensa americana ele contou que imediamente reconheceu a menina e temeu que mãe e filha fossem separadas. No entanto, o pai foi informado que as duas estão juntas em um abrigo.
“Minha filha se tornou um símbolo da separação de crianças na fronteira dos Estados Unidos. Ela pode até ter tocado o coração do presidente Trump”, disse Denis Valera, pai da menina.
Valera disse que a menina e sua mãe Sandra Sanchez foram detidas juntas na divisa do México com a cidade de McAllen, no Estado do Texas, onde Sandra pediu asilo. Ele informou que mãe e filha não foram separadas depois de ser detidas. A vice-ministra das Relações Exteriores de Honduras, Nelly Jerez, confirmou o relato dos eventos feito por Valera.
O pai disse ter ficado surpreso e aflito quando viu a foto de sua filha chorando na televisão. “Ver o que estava acontecendo com ela naquele momento parte o coração de qualquer um. Meu coração ficou partido, porque é a minha menininha”, disse. “Claro que eu chorei [quando viu a foto]”.
Ele contou ter tentado convencer a mulher a não fazer a viagem. Mas ela teria dito repetidas vezes que queria ir aos Estados Unidos buscar um “futuro melhor” e tentar encontrar emprego. Segundo o marido, Sandra deixou Honduras sem avisar à família. “Eu não apoiei. Pergunte a ela por quê. Por que ela quis fazer nossa garotinha passar por isso?”, questionou. “Nunca tive a chance de dizer adeus para minha filha”, completou.
O casal tem outras três crianças, um menino, de 14 anos, e duas meninas de 11 e 6 anos. Hernandez explicou que amigos lhe disseram que Sandra pagou 6.000 dólares a um “coiote” para ajudá-la a atravessar a fronteira. “Eu nunca arriscaria minha vida para fazer essa viagem”, disse.
A foto foi usada em uma ação para arrecadar fundos pelo Facebook que conseguiu mais de 17 milhões de dólares de donativos para o Centro para Educação e Serviços Legais a Refugiados e Imigrantes (Raices), uma entidade sem fins lucrativos do Texas que oferece assistência legal a refugiados e imigrantes.
A política de “tolerância zero” contra a imigração ilegal da gestão Trump levou à separação de 2.342 crianças de seus pais na fronteira Estados Unidos-México entre 5 de maio e 9 de junho. Vídeos de crianças separadas sentadas em jaulas, uma gravação de áudio de crianças chorando e a foto de Moore provocaram indignação mundial com as diretrizes de Trump.
(Com Reuters e Estadão Conteúdo)