Consideradas como detentoras de poderes mágicos, meninas e jovens tornaram-se “escudos” de milicianos nos confrontos armados da República Democrática do Congo (RDC). As moças são recorrentemente estupradas e/ou forçadas a se casar com eles, denunciaram várias entidades e organismos internacionais no documento “Tudo o que tinha, eu perdi”.
O relatório foi divulgado nesta segunda-feira, 20, e traz denúncias sobre os abusos cometidos contra crianças durante o conflito da província de Kasai em 2016 e 2017. Foi elaborado pela Coalizão Global para Proteger a Educação dos Ataques (GCPEA), entidade integrada pelo Observatório dos Direitos Humanos (HRW), Conselho Norueguês de Refugiados (NRC) e pela Agência das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur).
“As milícias acreditavam que as mulheres jovens tinham poderes mágicos e, frequentemente, as usavam na primeira linha de defesa para mover suas saias e repelir soldados armados”, disse a diretora-geral da GCPEA, Diya Nijhowne.
Baseado em entrevistas com 55 estudantes da RDC, o documento traz relatos de estupros durante os ataques das milícias a escolas, além sequestros para integrá-las em suas fileiras e casamentos forçados. Em 38 ataques documentados das Forças Armadas Congolesas a escolas, as jovens aparecem como como escudos humanos dos milicianos.
“Os líderes da milícia davam às meninas vassouras, que consideravam mágicas. Deram-me um utensílio de cozinha de madeira que diziam ser uma arma mágica que os soldados não poderiam derrotar”, narrou no relatório Lucia N., uma estudante de ensino médio forçada a participar de várias batalhas.
Antes uma era uma das regiões mais prósperas e pacíficas da RDC, Kansai tornou-se alvo de violência desde agosto de 2016, depois do assassinato do líder da milícia Kamuina Nsapu, contrária ao governo. O crime desencadeou batalhas entre a milícia, acusada de recrutamento forçado de crianças-soldado, e as Forças Armadas da RDC.
O conflito causou a morte de mais de 3,3 mil pessoas, incluindo dois analistas da Organização das Nações Unidas (ONU), e forço o deslocamento de mais de 1,3 milhão de pessoas de Kasai Central. Nessa região, a ONU identificou 80 valas comuns. Além disso, segundo a Acnur, cerca de 475 mil congoleses fugiram para países vizinhos.
(Com EFE)