Mercosul cita ‘profunda preocupação’ com tensão entre Venezuela e Guiana
"América Latina deve ser um território de paz", diz documento assinado por membros
Depois de reunião em cúpula no Rio de Janeiro, chefes de Estado do Mercosul manifestaram “profunda preocupação” em nota conjunta nesta quinta-feira, 7, com a “elevação das tensões” entre a Venezuela.
“A América Latina deve ser um território de paz e, no presente caso, trabalhar com todas as ferramentas de sua longa tradição de diálogo”, diz o documento assinado pelas partes do Mercosul (Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai) e Chile, Colômbia, Equador e Peru.
Mais cedo, durante a abertura da cúpula, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva já havia afirmado que o “Mercosul não pode ficar alheio” à situação que se desenrola na Guiana, após a Venezuela declarar que vai anexar a região de Essequibo.
“Estamos acompanhando com crescente preocupação a questão do Essequibo. O Mercosul não pode ficar alheio ao tema. Sugiro que o companheiro presidente de turno da Celac possa tratar o tema com as duas partes: a Guiana e a Venezuela. O Brasil está à disposição para sediar quantas reuniões de negociação forem necessárias”, disse Lula.
“Não queremos que isso contamine a integração nacional ou ameace a paz e a estabilidade. Se há uma coisa que não queremos na América do Sul é guerra e conflito. Temos que construir a paz para poder melhorar a vida das pessoas”, completou.
Conselho de Segurança da ONU
Na sexta-feira, o Conselho de Segurança das Nações Unidas irá se reunir para abordar as tensões regionais. Informações da agência de notícias francesa AFP, que teve acesso a um documento interno redigido pelo chanceler da Guiana, Hugh Hilton Todd, mostram que uma “uma reunião urgente” foi solicitada pelo governo guianense.
A região conturbada, de 160 mil km², representa 74% do território da Guiana, país que administra a área desde 1996, ano em que declarou independência do Reino Unido. A Venezuela alega que o local, rico em petróleo e minérios, foi tirado de seu domínio através de uma arbitrária sentença de Paris, em 1899. A reivindicação de Maduro encontrou eco em um recente e controverso reverendo, realizado no último domingo, em que mais de 95% dos eleitores aprovaram a formação do estado de Guiana Essequiba.
A consulta pública, contudo, registrou baixa participação da população: entre os 20,7 milhões de convocados, apenas 10,5 milhões compareceram às urnas. Embora o líder de Caracas tenha bradado a “vitória esmagadora”, o plebiscito não tem valor vinculativo, ou seja, não oferece um sinal verde oficial para que os planos de Maduro sejam concretizados. A burocracia parece não ter afetado o presidente, que concedeu nacionalidade aos 125 mil habitantes da região e divulgou o novo mapa do país, em que continha o território sequestrado.
Na véspera, Maduro informou que a petrolífera estatal PDVSA permitirá a exploração de petróleo, gás e minerais em Essequibo, bem como implementou uma zona militar situada a 100 km da divisa entre os países. A disputa chamou, inclusive, a atenção do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), notório aliado de Caracas, que pediu “bom senso” de ambos os lados e enviou 16 blindados para Roraima, estado fronteiriço.