Uma série de ataques de membros de cartéis do México deixou mais de uma dúzia de pessoas mortas em tiroteios nas cidades centrais do país.
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A onda de violência começou na terça-feira 9, quando as forças de segurança tentaram prender Ricardo Ruíz Velasco, líder do grupo de crime organizado mais notório do país, o Jalisco New Generation Cartel.
Integrantes da facção reagiram à operação policial incendiando ônibus, carros e dezenas de lojas de conveniência nas cidades de Guadalajara, Guanajuato e León.
Dois dias depois, outro incidente ocorreu em uma prisão em Ciudad Juárez, na fronteira com os Estados Unidos, quando gângsteres rivais entraram em confronto.
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A violência, aparentemente sem relação com os estragos em Jalisco e Guanajuato, logo se espalhou para além dos muros da prisão e um tiroteio entre homens armados do cartel e policiais atingiu civis pelas ruas da cidade.
No dia seguinte, Tijuana, outra área fronteiriça a cerca de 32 quilômetros de San Diego, se viu no centro do conflito, com transeuntes correndo para tentar escapar dos ataques de bandidos, que ergueram bloqueios nas estradas e queimaram dezenas de veículos.
“Eles estão literalmente incendiando nosso país”, tuitou o editor do jornal local Noroeste, Adrián López, que disse que o ataque direto a civis era sem precedentes.
https://twitter.com/AdrianLopezMX/status/1558312406207451137?s=20&t=-lFws6JWsMZIQzoY9nIaHQ
A escalada de terror no país levantou novas questões sobre as políticas de segurança do nacionalista presidente do México, Andrés Manuel López Obrador.
O chefe de Estado, que foi eleito em 2018 prometendo “pacificar” sua nação conturbada com uma política controversa de “abraços, não balas”, afirmou que os ataques sugeriam que esses esforços estavam tendo sucesso.
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“Quero dizer ao povo do México que mantenha a calma”, disse López Obrador em comunicado, classificando os ataques como “propaganda” dos cartéis, que estariam tentando “projetar uma falsa sensação de poder”.
Opositores do governo atribuíram a semana caótica à incapacidade das forças de segurança de responderem aos grupos fortemente armados.
O especialista em segurança Óscar Balderas, consultado pelo jornal britânico The Guardian, disse que longe de ser um evento isolado, a série de incidentes é o resultado de uma estratégia mal concebida ainda baseada em capturar líderes de cartéis sem atingir as finanças ou bens de seus grupos.
“Ao invés de simplesmente prender os chefes das organizações criminosas, as operações policiais precisam fechar contas bancárias, apreender propriedades e confiscar armas, sobretudo as de alto calibre, que só o exército pode usar”, analisou o especialista.
O secretário de Defesa do México, Luis Cresencio Sandoval, defendeu as táticas de seu governo, chamando os ataques de uma contra-ofensiva contra a crescente pressão do governo, incluindo o envio de centenas de membros da guarda nacional e uma série de grandes operações e prisões.
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O governo de López Obrador fez algumas apreensões significativas em sua cruzada anticartel, mas essas operações nem sempre ocorreram como planejado.
Em outubro de 2019, o filho de Joaquín “El Chapo” Guzmán foi detido brevemente em Culiacán, mas depois libertado por ordem do presidente depois que homens armados do cartel paralisaram a cidade com uma onda de ataques.
De forma semelhante, os combates que desencadearam a recente semana de violência no México ocorreram quando as autoridades tentaram prender o fundador do cartel de Jalisco.
Para analistas, esses resultados destacaram a falta de inteligência operacional e vontade política quando se trata de combater o crime organizado no México.