Milei conversa com papa, a quem já acusou de ‘estar do lado de ditadores’
Francisco disse que o presidente eleito terá de enfrentar a nova etapa com 'sabedoria e coragem'; Milei respondeu que 'está trabalhando' na sabedoria

O presidente eleito da Argentina, Javier Milei, conversou por telefone com o papa Francisco, que é argentino, segundo o jornal local La Nación. Durante e antes da campanha pela Casa Rosada, o político ultraliberal havia feito inúmeras críticas ao pontífice, chamando-o de “representante do mal na Terra” e acusando-o de impulsionar o comunismo ao “estar do lado de ditadores” como Fidel Castro e Nicolás Maduro.
De acordo com o La Nación, figuras do entorno de Milei disseram que o líder da Igreja Católica o teria parabenizado pela vitória. A conversa teria sido “agradável”, conforme descrito pelas fontes, e durou cerca de oito minutos.
Durante o telefonema, Milei transmitiu a Francisco que sabe que tem “um desafio importante para combater a pobreza e a miséria” e disse que vai trabalhar “fortemente” na melhoria da educação. Francisco, por sua vez, disse-lhe que terá de enfrentar a nova etapa política com “sabedoria e coragem”.
O presidente eleito da Argentina teria respondido: “Coragem não me falta e estou trabalhando a sabedoria”.
Milei também teria estendido um convite ao papa para ir à Argentina numa visita oficial. Se o fizer, seria um ato histórico: em seus dez anos de papado, Jorge Bergoglio, nome de nascimento do pontífice, nunca voltou à sua terra natal.
A conversa entre os dois era muito esperada, já que Milei sempre foi crítico ao líder do Vaticano. Em 2020, chegou a dizer em uma entrevista que ele era “desastroso” e “o representante do mal na Terra”.
“O papa impulsiona o comunismo, e isso vai contra os escritos sagrados”, declarou.
Durante a campanha, em setembro, quando Milei deu uma entrevista a Tucker Carlson, o polêmico jornalista americano, voltou a criticar Francisco.
“O papa joga politicamente, tem uma forte influência política e também demonstrou uma grande afinidade com ditadores como Castro ou Maduro. Ou seja, ele está do lado de ditaduras sangrentas”, lançou.
A escalada verbal entre Javier Milei e a Igreja continuou: o designado cardeal argentino Víctor Manuel “Tucho” Fernández – instalado no Vaticano – afirmou que Francisco “certamente” não irá para um lugar “onde as autoridades desprezem a sua presença”, em referência para uma possível viagem à Argentina.
Na etapa final da campanha, porém, Milei moderou o discurso sobre Francisco, diante das críticas que sofreu. Em um debate com Sergio Massa, já havia dito que convidaria o papa a ir à Argentina “com todas as honras”.