Nesta quarta-feira, 23, o Ministério das Relações Exteriores da Rússia sofreu um ataque cibernético significativo, coincidindo com a 16ª Cúpula do Brics, que ocorre no país até a quinta-feira, 24. A porta-voz da pasta, Maria Zakharova, confirmou que a infraestrutura do site oficial foi comprometida e classificou a situação como “sem precedentes em escala”. Em resposta, as autoridades de Kazan reforçaram as medidas de segurança na cidade.
“Um ataque cibernético massivo do exterior começou esta manhã, atingindo o portal do Ministério das Relações Exteriores da Rússia”, declarou Zakharova. Ela observou que o ministério enfrenta ataques semelhantes regularmente.
Segundo ela, o portal do ministério sofreu um ataque distribuído de negação de serviço (DDoS, na sigla em inglês), quando um invasor sobrecarrega um website, servidor ou recurso de rede com tráfego malicioso. Como resultado, o alvo trava ou não consegue operar, negando serviço a usuários legítimos.
Cúpula do Brics
Putin se reunirá com cerca de 20 líderes estrangeiros na cúpula de três dias do Brics, que teve início nesta terça-feira, 22, numa tentativa de mostrar que não está sozinho, apesar do isolamento político que o Ocidente impôs ao seu país em meio à guerra na Ucrânia.
O chefe do Kremlin afirmou nesta terça que “o Brics não se opõe a ninguém”. “Esta é uma associação de Estados que trabalham juntos com base em valores comuns, uma visão comum de desenvolvimento e, mais importante, o princípio de levar em consideração os interesses uns dos outros”, declarou.
O tema da 16ª Cúpula do Brics é “fortalecimento do multilateralismo para um desenvolvimento e segurança globais justos”. O Kremlin declarou que os líderes do grupo trocarão opiniões sobre “questões urgentes na agenda global e regional”, assim como sobre “os três principais pilares de cooperação identificados pela presidência russa: política e segurança, economia e finanças, e laços culturais e humanitários”.
O assessor de política externa de Putin, Yuri Ushakov, disse que 36 países confirmaram a participação na cúpula e que o presidente russo deve realizar cerca de 20 reuniões bilaterais com chefes de Estado. Segundo ele, a cúpula pode se tornar “o maior evento de política externa já realizado” em solo russo.
A guerra na Ucrânia, no entanto, não está em pauta, disse o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, ao jornal Izvestia, alegando que os participantes poderiam “levantar essa questão a seu critério”. Quando questionado por repórteres sobre as perspectivas de um cessar-fogo, o presidente russo respondeu que Moscou não colocará em negociação o controle das quatro regiões anexadas do leste da Ucrânia, que, segundo ele, agora fazem parte do território russo.
Esta é a primeira cúpula do grupo desde sua expansão, em 2023, e o maior encontro internacional organizado por Putin desde a invasão russa à Ucrânia, em fevereiro de 2022. Egito, Irã, Emirados Árabes Unidos e Etiópia se juntaram a Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul no início deste ano.
“O que estamos assistindo no Brics é a uma visão geopolítica da China e da Rússia de transformar o bloco em um contraponto ao G7, e nitidamente uma tentativa de utilizar essas potências emergentes e países que são contra a ordem liberal internacional para tentar subverter, no médio prazo, o que está acontecendo no mundo, a atual ordem que foi implementada no pós-1945”, diz a VEJA o economista e cientista político Igor Lucena, CEO da Amero Consulting.
O Brics representa 45% da população mundial e 35% de sua economia, com base na paridade do poder de compra (PPI), sendo a China responsável por mais da metade de seu poder econômico.