O ministro da Fazenda da Argentina, Nicolás Dujovne, renunciou neste sábado, depois do terremoto financeiro ocorrido nos mercados do país na última semana. Em seu lugar assume Hernán Lacunza, que ocupava o cargo de secretário da Economia da Província de Buenos Aires.
A turbulência é uma reação dos investidores à derrota da chapa do presidente Mauricio Macri apontada pelas primárias do último domingo (uma espécie de prévia da eleição presidencial que ocorrerá este ano). A chapa de Alberto Fernández, que tem a ex-presidente Cristina Kirchner como candidata a vice, venceu Macri com uma diferença de 15 pontos percentuais. Em decorrência disso, a bolsa de Buenos Aires teve uma série de quedas, enquanto o preço do dólar, antes na casa dos 40 pesos argentinos, superou os 60 pesos.
Dujovne apresentou a renúncia a Macri. “Em virtude das circunstâncias, a gestão de Macri precisa de uma renovação significativa na área econômica. Considero que minha renúncia é coerente com a filiação a um governo e espaço político que escuta o povo e que atua em consequência disso”, declarou Dujovne na carta.
O agora ex-ministro, que estava à frente da pasta desde janeiro de 2017, não fez aparições públicas desde o início da nova crise financeira, desencadeada pelo resultado das primárias. Em sua carta de renúncia, afirmou: “Houve conquistas na redução do déficit e do gasto público, na redução de impostos nas províncias, em recuperar o federalismo. Sem dúvida, cometemos erros, que nunca duvidamos em reconhecer e fizemos todo o possível para corrigir”.
Desde quinta-feita havia rumores sobre uma iminente saída do ministro, que ocupou o cargo em um momento complexo para a economia argentina. Após um crescimento de 2,7% em 2017, o país entrou em recessão a partir de abril de 2018, com uma sucessão de altas no preço do dólar, o que rapidamente contagiou todos os setores da atividade.
“Espero que o nosso querido país possa finalmente reverter um rumo de décadas de fracassos e alcançar o objetivo do desenvolvimento econômico e da eliminação de pobreza”, escreveu.
No meio da crise, Dujovne negociou e selou com o Fundo Monetário Internacional (FMI) um acordo de três anos para um auxílio financeiro de 56,3 bilhões de dólares, sob o compromisso de um forte ajuste fiscal.
O PIB argentino caiu 2,5% em 2018 e, de acordo com os últimos dados oficiais disponíveis, a atividade econômica acumulou nos primeiros cinco meses do ano uma queda anualizada de 3,1%.
A recessão vem combinada com uma alta inflação, de 47% em 2018, com uma subida acumulada nos primeiros sete meses deste ano de 25,1% e que os analistas apontam que poderia rondar os 50% neste ano, a partir da instabilidade ocorrida nos últimos dias.
Na visão de especialistas e de boa parte do espectro político, esse cenário de recessão e inflação, com índices de pobreza e desemprego em alta, influenciaram em grande medida no revés eleitoral sofrido por Macri, que tentará a reeleição em 27 de outubro.
(Com agência EFE)