Um escândalo político e sanitário custou o emprego do ministro da Saúde da Argentina, Ginés González García. Políticos e amigos do gestor furaram a fila de prioridades estabelecida pelo governo federal e foram vacinados contra a Covid-19 de forma secreta. Após a revelação do caso, que ganhou o apelido de “lista vip”, o presidente Alberto Fernández determinou que o auxiliar renunciasse ao cargo. A carta demissionária foi divulgada por García na noite de sexta-feira, 19.
Ao apresentar sua versão sobre o escândalo, García afirmou que o episódio foi um “mal-entendido” e atribuiu a culpa para sua secretária privada, dizendo que ela cometeu uma “confusão involuntária”. Pessoas próximas a Fernández disseram à imprensa local que o presidente está muito decepcionado com o caso, já que tinha apreço pelo trabalho desenvolvido pelo ministro durante a pandemia. García foi substituído pela médica Carla Vizzotti, especialista em programas de vacinação.
O ministro já havia comandado a pasta da Saúde entre entre 2002 e 2007, nos governos de Eduardo Duhalde e Néstor Kirchner. O escândalo foi revelado um jornalista alinhado ao kirchnerismo dar uma entrevista para a rádio El Destape. Horacio Verbitsky contou que ligou para García e recebeu instruções sobre como proceder para ser vacinado antes dos profissionais de saúde e dos idosos com mais de 80 anos de idade. Após o contato, um secretário de García pediu para que Verbitsky fosse ao prédio do ministério, onde uma dose do imunizante russo Sputnik V foi ministrada clandestinamente no jornalista.
Posteriormente, a imprensa argentina revelou que outras oito pessoas furaram a fila de vacinação, incluindo um deputado e um senador. Um empresário também recebeu a vacina secretamente e ainda garantiu doses do imunizante para dois de seus familiares.
Um escândalo semelhante ocorreu no Peru. O ex-presidente Martin Vizcarra foi vacinado de forma secreta, assim como duas ministras de estado. As gestoras pediram demissão dos postos que ocupavam após a revelação do caso. Outros 16 funcionários públicos que furaram a fila foram demitidos, segundo o governo federal. Vizcarra será processado por atentar contra a administração pública, por extorsão e pelo crime de obter proveito incompatível com o cargo que ocupava.