Black Friday: Assine a partir de 1,49/semana
Continua após publicidade

Mulheres à frente na disputa pela Presidência mostram novos ares no México

Sacudindo o patriarcado, Claudia Sheinbaum e Xóchitl Gálvez lideram a corrida eleitoral de 2024

Por Caio Saad Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 09h56 - Publicado em 17 set 2023, 08h00

Conhecido pela cultura machista e patriarcal, representada no exterior em novelas, filmes e até no seriado infantil Chaves, o México, enfim, está revendo o papel da mulher na sociedade. A reforma vem acontecendo há algum tempo, mas ganhou um tremendo impulso agora, com dois acontecimentos marcantes e quase simultâneos. Primeiro, a Suprema Corte ampliou para todos os 31 estados a garantia de acesso ao aborto, direito que só se estendia a onze deles. Em seguida, o esquerdista Morena, partido no poder, e uma coalizão de oposição liderada pelo conservador PAN confirmaram duas mulheres – respectivamente, Claudia Sheinbaum e Xóchitl Gálvez – como candidatas à Presidência em 2024. No cotidiano, o país está a anos-luz da igualdade de gêneros: elas ganham em média 16% menos do que eles e, vítimas de violência doméstica, dez são assassinadas por dia. “Mesmo assim, poder dizer hoje que o México, no ano que vem, vai ser governado por uma mulher representa uma mudança extraordinária”, diz Jesús Silva-Herzog Márquez, cientista político do Instituto de Tecnologia de Monterrey.

Integrantes da mesma geração, Sheinbaum, 61 anos, e Gálvez, 60 anos, estrearam na política na virada do século, quando o Senado quase inteiro era composto de homens. Na eleição de 2018, o placar virou e elas se tornaram maioria. A transformação se solidificou um ano depois, quando uma emenda à Constituição estabeleceu que os partidos teriam que apresentar pelo menos 50% de candidatas mulheres. Resultado: o México está hoje em quarto lugar no mundo em matéria de inclusão feminina no Congresso, bem à frente do Brasil, Reino Unido e Estados Unidos.

SITUAÇÃO - Sheinbaum: nas asas da popularidade de AMLO, seu padrinho na política
SITUAÇÃO – Sheinbaum: nas asas da popularidade de AMLO, seu padrinho na política (Fred Ramos/Getty Images)

As pesquisas mais recentes mostram Sheinbaum, do Morena, na frente, com 44% das intenções de voto, contra 27% de Gálvez. A líder se beneficia da proximidade com o atual presidente, Andrés Manuel López Obrador, o popular AMLO, seu padrinho político que, no último ano de governo, ostenta inabalável índice de aprovação de 65%. Neta de imigrantes judeus, divorciada, mãe de uma filha e um enteado, ela é reservada e discreta e tenta compensar a falta de carisma com uma imagem de seriedade – é formada em física e doutora em engenharia ambiental – e a promessa de seguir na trilha aberta por López Obrador. Ex-prefeita da Cidade do México (renunciou para se candidatar), declara-se feminista, defensora do meio ambiente e integrante de uma nova geração de ativistas. “Sou filha de 1968”, define-se, manifestando orgulho de nunca haver se aproximado do PRI, o partido hegemônico que se manteve no poder no México por 71 anos seguidos e serviu de berço para muitos políticos ainda em atividade. “No fundo, Sheinbaum é uma funcionária pública. Se eleita, terá uma abordagem mais técnica”, diz Vanessa Rubio-Márquez, pesquisadora do Chatham House para as Américas.

De estilo bem diverso, Gálvez tem como marca registrada a fala de gente comum, intercalada por palavrões. “Minha regra de ouro: não quero saber de ladrões, nem frouxos, nem babacas”, disse após a indicação, em entrevista na qual prometeu que combaterá a violência com “os ovários”. “Sua maior dificuldade será mostrar que não é igual nem a AMLO, nem ao que veio antes dele”, analisa Rubio-Márquez. Nascida em família humilde, filha de pai indígena alcoólatra e violento e mãe mestiça, Gálvez usa roupas de estampas típicas e conta sempre que, quando criança, vendia tamales na rua para ajudar a família. Formada em engenharia e casada (não no papel) com o também engenheiro Rubén Sánchez, com quem tem um casal de filhos, é dona de uma bem sucedida empresa de tecnologia que está na origem de sua inesperada popularidade. No início do ano, AMLO, em uma de suas manãneras, a habitual entrevista a mídias amigas às 7 de manhã, resolveu investir contra a senadora pouco conhecida, então candidata a prefeita da capital, insinuando irregularidades em sua empresa. Gálvez apelou à Justiça, conseguiu direito de resposta foi bater à porta de seu gabinete no meio de uma entrevista. Não entrou, mas posou, postou e a cena viralizou.

Continua após a publicidade
AVANÇO - “Aborto legal é obrigação do Estado”: a Suprema Corte ampliou o acesso a todo o país
AVANÇO - “Aborto legal é obrigação do Estado”: a Suprema Corte ampliou o acesso a todo o país (Rebecca Blackwell/AP/Imageplus)

AMLO, de fato, tem pouco compromisso com a verdade nas mañaneras. Segundo um levantamento, 40% do que falou no ano passado era parcial ou totalmente falso. Mas seu apoio terá peso considerável na eleição, consequência de seus programas sociais e da recuperação econômica pós-pandemia – depois de uma queda do PIB de 3,1% em 2022, prevê-se uma alta de 2,6% este ano, impulsionada pelo estímulo dos Estados Unidos à instalação de manufaturas em sua área de influência. Seja qual for o resultado, uma coisa é certa: no Palácio Nacional, a cadeira presidencial será um grito contra o patriarcado.

Publicado em VEJA de 15 de setembro de 2023, edição nº 2859

Publicidade

Imagem do bloco
Continua após publicidade

4 Colunas 2 Conteúdo para assinantes

Continua após publicidade

Vejinhas Conteúdo para assinantes

Continua após publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Black Friday

A melhor notícia da Black Friday

BLACK
FRIDAY

MELHOR
OFERTA

Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 5,99/mês*

ou
BLACK
FRIDAY
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (menos de R$10 por revista)

a partir de 39,96/mês

ou

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.