O Gabinete do Comissário de Informação (ICO) abriu uma investigação contra o Museu Britânico após acusações de que a instituição teria um grupo de tábuas sagradas etíopes em segredo há 150 anos. A informação foi divulgada neste domingo, 31, pela Returning Heritage, organização sem fins lucrativos responsável por apresentar a queixa formal. Em comunicado, a ONG informou que o ICO aprovou a reclamação como “elegível para investigação e um assistente social foi designado para gerenciar a investigação”.
“Em agosto de 2023, a Returning Heritage fez o seu quarto pedido de Liberdade de Informação (FOI) ao Museu Britânico, convidando-o a fornecer informações sobre as principais reuniões do seu Conselho de Curadores onde a questão dos Tabots Etíopes tinha sido discutida”, explicou a declaração. “Estas reuniões foram realizadas entre 2004 e 2022. O nosso objetivo é compreender porque é que os curadores parecem acreditar (falsamente) que não podem remover legalmente os Tabots da coleção do Museu.”
Os Tabots de madeira e pedra, 11 no total, representam a Arca da Aliança e os Dez Mandamentos e, por isso, são considerados de extrema sacralidade. O saque das peças, reconhecido pelo museu, foi realizado por soldados britânicos após a Batalha de Maqdala, na Etiópia, em 1868. O antiquíssimo roubo motivou apelos para que os artefatos fossem devolvidos, como o pedido do então ministro da Cultura etíope, Hirut Kassaw, em visita à Inglaterra em 2019.
Por serem sagrados, os artefatos nunca foram expostos ao público e são difíceis de serem acessados por curadores de dentro e fora da instituição e pelo diretor do Museu Britânico, Mark Jones, que assumiu o cargo em setembro de 2023, após o escândalo de sumiço de 2 mil itens do acervo. A Returning Heritage argumenta, então, que “retê-los é vergonhoso para uma instituição cujo objetivo publicado é garantir que a coleção seja alojada em segurança, conservada, curada, pesquisada e exposta”.
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Imbróglio para devolução
Como os itens não podem ser estudados, a organização afirma que podem ser devolvidos ao território de origem. Na mais recente solicitação, a ONG demandou informações sobre reuniões que tiveram os Tabots como tema. O pedido tem como objetivo compreender os argumentos dos britânicos, baseados em uma legislação de mais de 60 anos, para que os artefatos não sejam devolvidos.
“A Seção 5 da Lei do Museu Britânico de 1963 (‘Descarte de Objetos’) permite que os objetos sejam repatriados se, na opinião dos Curadores, os objetos forem “impróprios para serem retidos” e puderem ser removidos “sem prejuízo dos interesses de estudantes”, disse o comunicado.
“Tal como acontece com cada um dos nossos quatro pedidos de FOI, o Museu continua a aplicar a isenção da secção 27, o que significa que a divulgação das informações que solicitamos prejudicaria as relações do Reino Unido com outro Estado. Como a Igreja Ortodoxa Etíope não constitui nem o governo nem um órgão do governo da Etiópia, este argumento é claramente insustentável. É igualmente verdade que as relações do Reino Unido com a Etiópia só poderão beneficiar do regresso dos Tabots”, acrescentou.