Na Assembleia Geral, Lula condena ‘genocídio’ em Gaza e critica ‘cumplicidade’ de países
Lula afirmou que os ataques do Hamas são 'indefensáveis', mas destacou que 'nada, absolutamente nada, justifica o genocídio em curso em Gaza'

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) condenou nesta terça-feira, 23, o “genocídio” na Faixa de Gaza e condenou a “cumplicidade” de países que poderiam evitar o “massacre” no enclave durante discurso na Assembleia Geral das Nações Unidas. Lula também afirmou que os ataques do Hamas são “indefensáveis”, mas destacou que “nada, absolutamente nada, justifica o genocídio em curso em Gaza”. Mais de 65 mil palestinos foram mortos — entre eles, 440 por fome, incluindo 144 crianças — desde o início da guerra entre Israel e Hamas, em 7 de outubro de 2023.
“Nenhuma situação é mais emblemática do que o uso desproporcional e ilegal da força do que a da Palestina. Os atentados terroristas perpetrados pelo Hamas são indefensáveis sobre qualquer ângulo, mas nada, absolutamente nada, justifica o genocídio em curso em Gaza”, disse Lula, sob aplausos de países-membros.
“Ali, sob toneladas de escombros, estão enterradas dezenas de milhares de mulheres e de crianças inocentes. Ali também estão sepultados o direito internacional e humanitário e o mito da superioridade étnica do ocidente”, continuou. “Esse massacre não aconteceria sem a cumplicidade dos que poderiam evitá-lo.”
Além disso, o petista alertou que a “fome é usada como arma de guerra e o deslocamento forçado de populações é praticado impunimente”, acrescentando: “Quero expressar minha admiração aos judeus que, dentro e fora de Israel, se opõem a essa punição coletiva”. Ele advertiu que o “povo palestino corre o risco de desaparecer” e que “só sobrevivera como Estado independente e integrado à comunidade internacional”.
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Solução de dois Estados
França seguiu os passos nesta segunda-feira, 22, do Reino Unido, Canadá, Austrália e Portugal no reconhecimento do Estado da Palestina. Os quatro países anunciaram neste domingo, 21, às vésperas da reunião em Nova York, a validação do Estado palestino como um caminho para a solução de dois Estados. Mais de 140 países dos 193 países-membros da ONU, incluindo o Brasil, reconhecem a Palestina. A medida é condenada por Israel e pelos EUA — a missão americana, inclusive, vetou as últimas resoluções do Conselho de Segurança sobre Gaza.
“Esta é a solução defendida por mais de 175 membros da ONU e reafirmada ontem, aqui, neste mesmo plenário, mas obstruída por um único veto. É lamentável que o presidente Mahmoud Abbas (da Palestina) tenha sido impedido pelo país anfitrião (EUA) de ocupar a bancada da Palestina neste momento histórico. O alastramento desse conflito para o Líbano, para a Síria, para o Irã e o Catar fomenta a escalada armamentista sem precedentes”, concluiu.
Na véspera, Lula já havia afirmado que a “tirania do veto” contraria a “razão de ser da ONU”, em crítica indireta aos Estados Unidos. A declaração foi realizada na Conferência Internacional de Alto Nível, em Nova York. Ele também frisou que “o direito de defesa não autoriza a matança indiscriminada de civis”, reiterando: “Nada justifica tirar a vida ou mutilar mais de 50 mil crianças. Nada justifica destruir 90% dos lares palestinos. Nada justifica usar a fome como arma de guerra, nem alvejar pessoas famintas em busca de ajuda”.
“A fome não atinge apenas o corpo, ela estilhaça a alma. O que está acontecendo em Gaza não é só o extermínio do povo palestino, mas uma tentativa de aniquilamento de seu sonho de nação”, disse na ocasião. “Tanto Israel, quanto a Palestina têm o direito de existir. Trabalhar para efetivar o Estado palestino é corrigir uma assimetria que compromete o diálogo e obstrui a paz. Saudamos os países que reconheceram a Palestina, como o Brasil fez em 2010. Já somos a imensa maioria dos 193 membros da ONU.”