O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), nesta quarta-feira (26), voltou a relativizar a guerra na Ucrânia após condenar a “violação” de seu território, esquivando-se de uma pergunta sobre os territórios da Crimeia e do Donbas – disputados por Kiev e Moscou.
“Não cabe a mim decidir de quem é a Crimeia ou o Donbas”, disse Lula, em resposta a uma pergunta de um jornalista espanhol em coletiva de imprensa em Madri. “Quando você senta numa mesa de negociação, pode discutir qualquer coisa, até a Crimeia. Quem tem que discutir isso são os russos e os ucranianos”, completou.
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A coletiva de imprensa ocorreu após reunião de pouco mais de uma hora do líder brasileiro com o premiê espanhol, Pedro Sánchez, no Palácio da Moncloa, sede do governo em Madri.
O petista afirmou ainda que o Brasil foi “taxativo” ao condenar a invasão e reiterou que, após a deflagração do conflito, não adianta dizer quem está certo ou errado. Segundo ele, é preciso parar a guerra. “Só vai se discutir um acerto de contas quando parar de dar tiro”, disse.
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Em sua fala, Lula também criticou diretamente as Nações Unidas (ONU) na mediação do conflito e defendeu uma reforma no Conselho de Segurança da organização para a entrada de novos países.
“Eu acho que discussão sobre a guerra está errada”, afirmou. “A ONU que me perdoe. A ONU já poderia ter convocado algumas sessões extraordinárias para discutir a guerra. Por que não fez? Porque não interessa a guerra nem à Ucrânia, não deveria interessar a Rússia e não interessa à Europa e nem ao Brasil.”
A mídia que acompanhou o encontro só pôde fazer duas perguntas, e ambas foram acerca do conflito na Ucrânia.
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A reunião entre os líderes produziu três acordos: um memorando sobre cooperação universitária, outro entre os ministérios do Trabalho do Brasil e Espanha e uma carta de intenções na área de ciências, tecnologia e inovação. Depois da reunião, o presidente brasileiro almoçou com o rei Felipe VI no Palácio Real, em evento sem acesso à imprensa.
Lula chegou à Espanha na terça-feira 25 para dois dias de compromissos, após a viagem de seis dias a Portugal. Do almoço, Lula seguiria direto para o aeroporto, encerrando sua primeira visita à Europa do novo mandato.
Crimeia e Donbas
Em 18 de março de 2014, o líder russo, Vladimir Putin, assinou o tratado de “reintegração da Crimeia na Federação Russa”. A estratégica península no Mar Negro fazia parte da União Soviética até o bloco se dissolver, tendo antes pertencido durante séculos ao Império Otomano.
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A esmagadora maioria da comunidade internacional continua a considerar a Crimeia território da Ucrânia, nove anos depois da anexação. A suposta “reintegração” se deu após a invasão da península por forças russas, em fevereiro de 2014 – seguindo-se ao afastamento do presidente pró-russo Viktor Yanukovych – e um apressado “referendo” orquestrado pelas autoridades russas, que se concluiu com um apoio de suspeitíssimos 96,77% à anexação da Crimeia, resultado não reconhecido pelo direito internacional.
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O líder russo ratificou a lei de anexação a 21 de março daquele mesmo ano. A “receita” do Kremlin – de invasão, referendo-relâmpago e anexação – foi repetida em setembro de 2022, depois da ocupação de partes das províncias ucranianas de Kherson, Zaporíjia, Donetsk e Lugansk. As duas últimas regiões formam o Donbas, um dos centros mais importantes da industrialização do Império Russo (no século XIX) por causa de suas reservas de carvão.