‘Não há comida’ nos quartéis da Venezuela, diz sargento desertor
Segundo Carlos Eduardo Zapata, militares compram até botas com o próprio salário; ele deixou o país após morte de sobrinho por falta de medicamentos
Carlos Eduardo Zapata, um dos sargentos desertores da Guarda Nacional Bolivariana (GNB), deu detalhes da situação dos militares de seu país em uma entrevista aos jornalistas que estão na fronteira entre o Brasil e a Venezuela. Segundo ele, o racionamento que atinge a população, que motivou o envio de ajuda humanitária estrangeira, afeta também as Forças Armadas.
“Nos quartéis, não há comida. Não tem colchões. Nós, os sargentos da Guarda Nacional, estamos dormindo no chão”, disse no domingo 24 o agora ex-membro das Forças de governo do ditador Nicolás Maduro.
Zapata foi o terceiro militar venezuelano a pedir refúgio em Pacaraima, em Roraima. Ele deixou seu destacamento ainda no domingo, se desfez do uniforme e caminhou por horas até a fronteira com o Brasil. “Estamos cobrindo nossas necessidades com nosso salário, comprando uniformes e botas. Não temos dinheiro para comprar um litro de leite para nossos filhos, eles estão magros”, acrescentou.
O sargento destacou que a decisão não foi fácil, e que muitos outros não saem da GNB por medo de represálias, já que devem deixar tudo para trás — incluindo a família — e estão sujeitos a prisão caso tenham o pedido de asilo negado. À imprensa, Zapata ainda disse que a morte de um sobrinho por falta de medicamentos foi a gota d’água para sua decisão de deixar a Venezuela. “Há muitos colegas que querem vir. Quem sustenta Maduro é o alto comando militar, porque eles são corruptos.”
Os outros dois militares que demonstraram apoio à oposição a Maduro, liderada por Juan Guaidó, foram Jean Carlos César Parra e Jorge Luis González Romero. Eles cruzaram a fronteira com o Brasil no sábado 23, se aproveitando do distúrbio entre suas tropas e os manifestantes que apoiavam a entrada de dois caminhões com mantimentos na Venezuela, uma operação que acabou fracassando.
Ambos estão sendo tratados como refugiados no Brasil e estão hospedados em um centro de abrigo da denominada Operação Acolhida, iniciativa do governo brasileiro para acolher os venezuelanos que fogem da crise econômica, social e política sofrida por seu país.
“Já não podemos aceitar mais a ditadura de Nicolás Maduro. Nós nos cansamos disso. Temos consciência da necessidade do povo da Venezuela e estamos dispostos a ajudar os companheiros que estão do outro lado para que venham aqui”, declarou Romero.
Ele ainda ressaltou que desertou por não querer apoiar o que está acontecendo na Venezuela, com “crianças passando fome e doentes”. “Como venezuelano me desespero. Sou patriota. Sou a favor da ajuda humanitária, e queria que a ajuda tivesse entrado ontem.”
(Com AFP, Agência EFE)