O chefe da Agência das Nações Unidas para os Refugiados Palestinos (UNRWA), Philippe Lazzarini, afirmou nesta segunda-feira, 17, que tropas israelenses continuam em operação em Rafah, cidade superpovoada no sul da Faixa de Gaza, um dia após o Exército de Israel anunciar pausas diárias nos confrontos para possibilitar a entrada de ajuda humanitária na região.
“Há informações de que tal decisão foi tomada, mas o nível político diz que nada dessa decisão foi tomada”, disse Lazzarini. “Portanto, por enquanto, posso dizer-lhes que as hostilidades continuam em Rafah e no sul de Gaza. E que, operacionalmente, nada mudou ainda.”
“Por enquanto, não vejo nada que se qualifique para a definição de pausa”, acrescentou.
À agência de notícias Reuters, Lazzari afirmou que a UNRWA recebeu uma notificação militar por meio de um documento em inglês, sem nenhuma outra tradução, de que uma pausa seria instaurada. Em seguida, o comunicado foi contradito pelo governo. Na véspera, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, criticou o plano de pausa a autoridades militares, dizendo que “era inaceitável para ele”, acrescentou a agência de notícias.
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Como ocorrerão as pausas
As suspensões momentâneas das hostilidades acontecerão, segundo o Exército, de 05h GMT às 16h GMT (2h às 13h no horário de Brasília) na estrada que liga a passagem de fronteira de Kerem Shalon — que fica próximo de Khan Yunis, bem no sul — à estrada Salah al-Din, mais ao norte. O território previsto na pausa não inclui, portanto, Rafah.
Por lá, moradores relataram à agência de notícias Reuters que militares de Israel avançaram nesta segunda-feira, por meio de ataques aéreos e terrestres, nas áreas central e ocidental da cidade. Os embates entre soldados e militantes do Hamas acontecem dentro do campo de Al-Shaboura, no sul de Rafah, onde milhares de deslocados palestinos estão abrigados. Não é a primeira vez, contudo, que o campo entra na mira israelense. No mês passado, Kareem Jarada, de 4 anos, e sua irmã, Mona, 2, foram mortos em um ataque aéreo.
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Fim do Gabinete de Guerra
Ainda nesta segunda-feira, Netanyahu dissolveu o Gabinete de Guerra do país. A coalizão formada nos primeiros dias de conflito com o Hamas, iniciado em 7 de outubro de 2023, após ataque do grupo extremista, era composta de seis membros.
A medida era esperada desde a saída do centrista Benny Gantz do governo, no último dia 9. Na ocasião, ele e Gadi Eisenkot, que também deixou a coalizão, disseram que o premiê fracassou em formar uma estratégia para o conflito. Mais de 36 mil palestinos e ao menos 1.200 israelenses foram mortos desde a eclosão do conflito. Estima-se, além disso, que 43 dos 120 reféns do Hamas foram mortos, ou seja, cerca de um terço daqueles mantidos em cativeiro na Faixa de Gaza.
É pouco provável que a medida de Netanyahu tenha repercussões significativas no conflito em Gaza, mas as ramificações políticas da decisão podem ser mais significativas. A dissolução do Gabinete de Guerra parece ser uma afronta deliberada aos aliados da coalizão de extrema direita que segura em pé o governo do premiê, incluindo o ministro da segurança nacional, Itamar Ben-Gvir, e o ministro das Finanças, Bezalel Smotrich, que tentavam entrar no grupo desde a saída de Gantz.