Com cerca de metade dos votos contados da eleição da Índia, que terminou na semana passada após mais de 600 milhões irem às urnas, o partido do primeiro-ministro do país, Narendra Modi, conquistou a maioria dos 543 assentos Parlamento, segundo a televisão indiana. Os números, porém, ficaram aquém da vitória esmagadora prevista nas pesquisas de boca de urna.
O Partido Bharatiya Janata (BJP) de Modi, portanto, pode depender de aliados para formar seu governo. Isso introduz certo grau de incerteza na formulação de políticas, uma vez que o premiê governou com autoridade quase irrestrita na última década.
Dança das cadeiras
A legenda nacionalista hindu conquistou a maioria das cadeiras quando chegou ao poder em 2014, encerrando uma era de governos instáveis de coalizão na Índia, feito que repetiu em 2019. As pesquisas de boca de urna de 1º de junho projetavam que Modi e o BJP registrariam uma grande vitória novamente, com dois terços ou mais dos assentos.
No entanto, nesta terça-feira, o partido do premiê parece ter conquistado quase 300 dos 543 assentos no Parlamento. Na casa legislativa, a maioria simples é atingida com 272, e em 2019 o BJP abocanhou 303 cadeiras. Os resultados completos, porém, devem sair apenas no final do dia.
As projeções indicam que a aliança de oposição ÍNDIA, liderada pelo centrista Partido do Congresso, de Rahul Gandhi (sem parentesco com Mahatma), ganhou mais de 220 assentos, acima do esperado. Sozinho, o Congresso obteve quase 100 assentos, quase o dobro dos 52 que conquistou em 2019 – um salto surpreendente que deverá impulsionar o poder e influência de Gandhi.
Líder inconteste
Ainda assim, se a vitória de Modi for confirmada, mesmo que por uma pequena margem, o BJP e seus aliados terão confirmado seu domínio sobre a Índia. O premiê de 73 anos, além disso, se tornará o segundo chefe de Estado a vencer três mandatos consecutivos.
O indiano segue à risca a cartilha da extrema direita em ascensão ao redor do globo. O BJP tem como origem um grupo paramilitar que se inspirava nos Camisas Negras do ditador italiano Benito Mussolini (1883-1945). Ele prega um nacionalismo exacerbado, no qual a Índia é o país dos hindus e os muçulmanos, 14% da população, estão lá para destruir os valores tradicionais.
Em paralelo, sufoca críticos, intimida os meios de comunicação e apela para detenções e processos judiciais contra os opositores. Nada disso afeta sua popularidade, tanto no Norte, mais pobre, onde Modi distribui benefícios e sacos de arroz com seu retrato estampado, quanto no Sul, mais avançado, que tira proveito de uma das maiores taxas de crescimento econômico do mundo, na casa dos 7% ao ano.