Netanyahu acusa chefe do Shin Bet de investigar ministro sem seu consentimento
Decisão do premiê de demitir o diretor da agência de segurança interna, Ronen Bar, foi barrada pela Suprema Corte na semana passada

O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, acusou nesta segunda-feira, 24, o chefe da agência de inteligência e segurança interna Shin Bet, Ronen Bar, de ter investigado sem o seu consentimento o ministro da Segurança Nacional, Itamar Ben Gvir. Líder do partido ultrarreligioso de extrema direita Poder Judaico, ele voltou a ser um dos sustentáculos do governo de Bibi, após deixar a coalizão temporariamente em protesto contra o cessar-fogo em Gaza (que entrou em colapso na semana passada).
“A afirmação de que o primeiro-ministro autorizou o diretor do Shin Bet, Ronen Bar, a reunir evidências contra o ministro Ben Gvir é mais uma mentira exposta”, escreveu o gabinete de Netanyahu em um comunicado. “O documento publicado, que contém uma diretriz explícita do chefe do Shin Bet para reunir evidências contra o escalão político, é semelhante a regimes obscuros, mina os fundamentos da democracia e visa derrubar o governo de direita.”
Ben Gvir, por sua vez, descreveu Ronen Bar como um “criminoso” e “um mentiroso que agora tenta negar sua tentativa de conspiração contra autoridades eleitas em um país democrático, mesmo depois que os documentos foram revelados ao público e ao mundo” em uma publicação no X (antigo Twitter).
Demissão barrada
Na sexta-feira, a Suprema Corte de Israel emitiu uma liminar temporária congelando a decisão do governo de demitir Bar em meio a protestos contra seu afastamento.
Após a liminar da Suprema Corte, a procuradora-geral de Israel, Gali Baharav-Miara, anunciou que Netanyahu está proibido de nomear um novo chefe para a agência de inteligência ou até mesmo conduzir entrevistas para o cargo.
Conflito de interesses
A demissão de Bar ressaltou tensões antigas entre o premiê e os nomes mais tradicionais da área de segurança em Israel, que entraram em conflito sobre o manejo da guerra em Gaza. A decisão do gabinete de Netanyahu também ocorre enquanto o Shin Bet e a polícia israelense investigam vários assessores do premiê israelense por acusações que incluem vazamento de informações secretas para um jornal estrangeiro.
Em uma carta divulgada na semana passada, Bar afirmou que sua demissão foi motivada pelos “interesses pessoais” de Netanyahu, referindo-se às conclusões tiradas pela investigação do Shin Bet sobre o ataque do Hamas em 7 de outubro de 2023, que disse que “uma política de silêncio permitiu que o Hamas realizasse um acúmulo militar maciço”.
“A demissão do chefe do serviço neste momento, por iniciativa do primeiro-ministro, envia uma mensagem a todos os envolvidos, uma mensagem que poderia colocar em risco o resultado ideal da investigação. Esse é um perigo direto para a segurança do Estado de Israel”, completou Bar.
Netanyahu, por sua vez, justificou a demissão afirmando que Bar tinha uma “abordagem branda e não agressiva o suficiente” para com os interesses de Israel, além de insinuar que ele esteve envolvido em vazamentos de informações sigilosas.