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Netanyahu fará de tudo para se manter no poder, dizem analistas

Primeiro-ministro de Israel deve usar aliança com bloco ultraconservador para obter imunidade parlamentar e se proteger de processo por corrupção

Por Julia Braun Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 11 abr 2019, 18h58 - Publicado em 11 abr 2019, 18h41

O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu usou das mais variadas táticas para conquistar sua reeleição na votação para o Parlamento israelense nesta semana. A forma como tratou as eleições e como vem reagindo às acusações de corrupção e abuso de poder demonstra que também será capaz de tudo para permanecer no cargo pelos próximos cinco anos de seu novo mandato.

O resultado da votação da última terça-feira 9 consagrou Bibi como o próximo líder de Israel. As eleições também formaram um dos Parlamentos mais conservadores da história do país, com os partidos ultra-ortodoxos e da extrema-direita levando ao menos 20 assentos.

Em sua atual coalizão, Netanyahu já conta com o apoio dos parlamentares da direita e, se nada mudar, deve mantê-los ao seu lado nos próximos anos.

Com essa base, o primeiro-ministro pode batalhar para conquistar a imunidade parlamentar que precisa para evitar as acusações de corrupção que pairam sobre o seu governo. Ao todo, os investigadores apuram três casos contra Bibi, dois deles envolvendo pagamentos e concessão de favores para meios de comunicação em troca de uma cobertura favorável a seu governo.

Por causa das eleições, o premiê havia pedido ao secretário de Justiça, Avichai Mandelblit, que “congelasse” os procedimentos contra ele temporariamente. Já nesta quinta-feira, 11, porém, seus advogados foram convocados para receber oficialmente as evidências dos casos para preparar a defesa do premiê.

Netanyahu ainda não foi acusado oficialmente, e seu indiciamento dependerá do resultado de uma audiência que ainda não tem data marcada, mas que deve acontecer ainda neste ano.

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Na sessão, Bibi e sua defesa podem tentar persuadir Mandelblit a não indiciá-lo oficialmente. Especialistas concordam, contudo, que a melhor chance para o premiê se livrar das acusações está na imunidade parlamentar.

Em Israel, os parlamentares não contam com privilégios perante à Justiça. O primeiro-ministro, contudo, poderia recorrer à aprovação de uma polêmica legislação que daria a ele imunidade enquanto estiver no cargo, a chamada “Lei Francesa”.

“Netanyahu não vai deixar sua carreira acabar indo para a prisão”, afirmou a analista chefe de política do Canal 2 de Israel, Dana Weiss, em teleconferência organizada pelo Winson Center, de Washington.

“Ele vai se juntar a sua coalizão de direita e, juntos, vão fazer o que for necessário para dar a imunidade a ele”, completou a especialista, que apresenta um programa de notícias em uma das maiores emissoras do país.

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Campanha agressiva

Weiss destaca que o primeiro-ministro já demonstrou que está disposto a lutar de forma agressiva pela sua sobrevivência. Nos meses anteriores às eleições, Netanyahu apostou em uma propaganda pesada contra seu principal adversário Benjamin Gantz, ex-chefe do Estado-Maior do Exército e líder do partido centrista Kahol Lavan.

O premiê chegou a veicular anúncios acusando o militar de ser “louco” e “mentalmente instável”. Também insinuou em repetidas ocasiões que seu rival poderia liderar uma aproximação com o Irã, o que jamais havia sido aventado por Gantz.

No dia da eleição, Bibi e seu partido, o Likud, enviaram mensagens de celular para seus eleitores pedindo que comparecessem às urnas para ajudá-lo a derrotar “os esquerdistas” – posições das quais os militantes do Khahol Lavan se distanciam. Como último recurso, o premiê foi até a uma praia e exigiu que os banhistas saíssem da água para votar em sua legenda.

“Não houve nenhuma barreira que ele não fosse capaz de cruzar nesta campanha”, afirma Dana Weiss.

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Anexação de território

Três dias antes das eleições, Benjamin Netanyahu afirmou que, se vencesse, poderia anexar partes do território palestino ocupado da Cisjordânia.

Em entrevista à cadeia de televisão israelense 12, Netanyahu foi indagado se tinha um projeto de anexar as colônias israelenses na Cisjordânia, ao que ele respondeu afirmativamente. “Aplicarei a soberania (israelense) sem fazer distinções entre os (maiores) blocos de colônias e os assentamentos isolados”, declarou.

Há cerca de 400 mil israelenses vivendo na Cisjordânia, território habitado majoritariamente por palestinos (cerca de 2,5 milhões), que exigem a criação de um Estado próprio. Especialistas consideram a presença de Israel no território como um dos principais obstáculos para alcançar a paz no Oriente Médio.

A anexação da Cisjordânia por Israel poderia significar o fim definitivo da chamada solução de dois Estados, isto é, a coexistência do Estado de Israel e do Estado Palestino com fronteiras definidas e soberanias respeitadas.

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A medida, contudo, poderia ser usada por Netanyahu em sua busca por imunidade parlamentar, segundo David Horovitz, editor do jornal The Times of Israel e especialista em política israelense.

Os partidos ultra-ortodoxos defendem o controle de Israel sobre muitos desses territórios e estariam dispostos a trocar seus votos em favor de Bibi por medidas radicais do premiê em relação à Palestina.

“Netanyahu poderia condicionar a anexação de ocupações na Cisjordânia a acordos com partidos da coalizão para protegê-lo de um processo”, diz Horovitz.

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