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Netanyahu prolonga guerra em Gaza para permanecer no poder, mostra investigação

Primeiro-ministro de Israel, que é julgado por acusações de corrupção, teria enxergado no conflito uma oportunidade para resistir à crise interna

Por Paula Freitas Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 11 jul 2025, 11h04

O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, prolongou a guerra em Gaza para permanecer no poder sob a influência da extrema direita israelense, revelou uma investigação do jornal americano The New York Times nesta sexta-feira, 11. Netanyahu, que é julgado por acusações de corrupção, teria enxergado no conflito uma oportunidade para resistir à crise interna, levando em maior consideração sua permanência no cargo do que o retorno dos reféns e o elevado número de palestinos mortos na Faixa de Gaza, estimado em 57 mil pessoas.

O ministro de Segurança Interna, Itamar Ben-Gvir, e o ministro das Finanças, Bezalel Smotrich, são apontados na reportagem como as principais figuras políticas ultradireitistas a influenciarem Netanyahu. Sem o apoio dos dois, a coalizão governista colapsaria e o premiê israelense perigaria em ser forçado a abandonar o posto. O NYT afirma que, em abril de 2024, Netanyahu cogitava aceitar um cessar-fogo prolongado, que possibilitaria a volta dos reféns e colocaria fim à violência em Gaza, e estava prestes a apresentar o acordo numa reunião.

Ele, no entanto, recuou após ameaças de Smotrich. Segundo o jornal americano, o ministro teria dito: “Quero que vocês saibam que, se um acordo de rendição como este for apresentado, vocês não terão mais um governo. O governo está acabado”. Em seguida, Netanyahu teria, discretamente, dado uma ordem às autoridades militares para que não apresentassem o plano. O The New York Times mostra, então, que o episódio foi apenas um dentre tantos que o primeiro-ministro privilegiou o poder em detrimento da paz na região.

A investigação diz que “para muitos israelenses, a prolongação da guerra é principalmente culpa do Hamas, que se recusou a se render apesar das perdas insondáveis ​​​​dos palestinos” e que a “maioria dos israelenses também vê a expansão da guerra para o Líbano e o Irã como um ato essencial de autodefesa contra aliados do Hamas que também buscam a destruição de Israel”.

Mas, ao mesmo tempo, “muitos acreditam cada vez mais que Israel poderia ter fechado um acordo anterior para encerrar a guerra, e eles acusam Netanyahu — que exerce autoridade máxima sobre a estratégia militar de Israel — de impedir que esse acordo fosse alcançado”. Para chegar a essas conclusões, o NYT conversou com “mais de 110 autoridades em Israel, nos Estados Unidos e no mundo árabe”, todas elas com contato direto a Netanyahu. Documentos, incluindo planos de guerra e avaliações de Inteligência, também foram analisados.

Problemas em casa

Antes de 7 de outubro, Netanyahu enfrentava problemas sérios dentro de casa. As acusações de corrupção e uma polêmica reforma judicial levaram milhares de israelenses às ruas. A guerra, então, surgiu como uma possibilidade de sobrevivência para o primeiro-ministro, que está no seu sexto mandato. Netanyahu, segundo o NYT, foi informado ao menos cinco vezes, em 2023, de que um ataque iminente estava próximo. A última tentativa de alertá-lo ocorreu em julho de 2023, mas também foi ignorada.

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“Nos anos que antecederam a guerra, a abordagem de Netanyahu ao Hamas ajudou a fortalecer o grupo, dando-lhe espaço para se preparar secretamente para a guerra. Nos meses que antecederam a guerra, a pressão de Netanyahu para minar o judiciário israelense ampliou as já profundas divisões na sociedade israelense e enfraqueceu suas forças armadas, fazendo Israel parecer vulnerável e encorajando o Hamas a preparar seu ataque”, diz o NYT.

“E, uma vez iniciada a guerra, as decisões de Netanyahu foram, por vezes, influenciadas predominantemente por necessidades políticas e pessoais, em vez de apenas por necessidades militares ou nacionais”, acrescenta.

O jornal afirma que Netanayhu deliberadamente adia as negociações para um cessar-fogo e, com isso, impede o fim da guerra. O atraso, alerta o NYT, “significa a morte de centenas de palestinos e o horror de milhares” e “também significou a morte de pelo menos mais oito reféns em cativeiro, aprofundando as divisões em Israel entre aqueles que buscavam um acordo de libertação de reféns acima de tudo e aqueles que acreditavam que a guerra deveria continuar até que o Hamas fosse destruído”.

O texto destaca que o conflito “atrasou o acordo com a Arábia Saudita e manchou a imagem de Israel no exterior”, levando “promotores do Tribunal Penal Internacional a pedirem a prisão de Netanyahu”. Encurralado, o premiê israelense não enxerga outra opção a não ser usar todas as peças do tabuleiro bélico para não ser julgado por suas decisões. “Netanyahu realizou uma ressurreição política que ninguém — nem mesmo seus aliados mais próximos — pensava ser possível”, opina Srulik Einhorn, um estrategista político que faz parte do círculo íntimo de Netanyahu, ao The New York Times.

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Pressão dos EUA

A reportagem também aborda a relação de Netanyahu com o ex-presidente dos Estados Unidos, Joe Biden. Com o avançar do conflito, autoridades americanas passaram a pressionar que o governo israelense caminhasse em direção a uma trégua com o Hamas. Para Netanyahu, tratava-se de uma escolha: dar ouvidos aos EUA, principal aliado de Israel, ou priorizar as opiniões dos políticos ultradireitistas que formavam a base da sua coalizão. De início, o premiê escolheu Biden. Depois, passou a jogar com os dois lados. Em meio à escalada de violência no enclave, em 21 de dezembro de 2023, o número de palestinos mortos ultrapassou 20 mil — e a situação mudou de figura.

“Biden perdeu a paciência com Netanyahu dois dias depois. Smotrich, em sua função de ministro das Finanças, havia bloqueado fundos destinados à Autoridade Palestina, que administra partes da Cisjordânia, colocando-a em risco de falência. O governo da Noruega se ofereceu para atuar como fiador do dinheiro, a fim de desviar as alegações de Smotrich de que o dinheiro seria usado para financiar o terrorismo”, alega o The New York Times.

“Após uma longa ligação, principalmente sobre Gaza, Biden pressionou Netanyahu a ignorar Smotrich e trabalhar com a Noruega. Se a Autoridade Palestina entrasse em colapso, a Cisjordânia poderia explodir em violência, criando mais uma frente que beneficiaria apenas os extremistas de ambos os lados. Netanyahu objetou, dizendo que a Noruega não era confiável. Biden disparou. ‘Se você não pode confiar na Noruega’, disse Biden, ‘então não faz sentido continuar a conversa’. Biden desligou o telefone”, conclui.

‘Ele sobreviveu’

Autoridades americanas passaram a tentar convencer Netanyahu que um segundo cessar-fogo — o primeiro aconteceu em novembro de 2023 — teria benefícios políticos. Dessa vez, eles instavam que se tratasse de uma trégua prolongasse, que culminasse no fim do conflito. Segundo o NYT, funcionários da Casa Branca “citaram pesquisas que mostravam que mais de 50% dos israelenses agora apoiavam um acordo de reféns em vez da continuação da guerra”. Mas Netanyahu, preocupado com o futuro, rebateu: “Não 50% dos meus eleitores”.

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Ele só aceitaria uma pausa nas hostilidades com o retorno de Donald Trump à Presidência, em janeiro de 2025. Netanyahu, contudo, “quebrou a trégua em março, em parte para manter sua coalizão intacta”. Depois disso, a catástrofe humanitária em Gaza se agravou, as conversas sobre o retorno dos reféns estagnaram e as negociações de paz se tornaram ainda mais distantes. Ao final da reportagem, o jornal americano diz que o “ataque brutal do Hamas a Israel foi o que desencadeou a guerra”, mas atribui culpa à continuidade a Netanyahu.

“À medida que o conflito se transformava de uma batalha existencial em uma guerra de atrito — e outros líderes israelenses questionavam a lógica por trás de sua continuação — foi Netanyahu quem o prolongou. Foi Netanyahu quem se recusou a planejar uma transferência de poder no pós-guerra e foi Netanyahu quem repetidamente adiou o cessar-fogo. Temendo por sua própria sobrevivência política, Netanyahu atrelou seu destino aos sonhos dos extremistas israelenses e prolongou a guerra para sustentar seu apoio”, reflete o NYT.

“Em outros aspectos, Israel está menos seguro do que nunca. Sua reputação está no seu pior momento. O Tribunal Internacional de Justiça está avaliando se Israel, fundado após um genocídio, é culpado de cometer outro. O Tribunal Penal Internacional emitiu um mandado de prisão contra o próprio Netanyahu. Netanyahu supervisionou uma das catástrofes do século XXI, uma catástrofe que provavelmente manchará o nome de Israel por décadas”, continua. “Mas para Netanyahu, houve um benefício duradouro. Ele sobreviveu”.

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