Netanyahu quer demitir chefe da segurança interna de Israel
Medida acende temores de que premiê israelense possa minar a independência do Shin Bet

O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, disse no domingo 16 que começou a tomar medidas para demitir o diretor do Shin Bet, a agência de inteligência e segurança interna. A iniciativa mirando Ronen Bar levantou temores entre seus críticos de que Bibi pode minar a independência do órgão.
A decisão ressalta as tensões antigas entre o premiê e os nomes mais tradicionais da área de segurança em Israel, que entraram em conflito sobre o manejo da guerra em Gaza. A possibilidade de demitir Bar também veio na esteira das investigações do Shin Bet contra vários assessores de Netanyahu, por acusações que incluem vazamento de informações secretas para um jornal estrangeiro.
Controvérsia
O gabinete do primeiro-ministro comunicou Bar que um rascunho de resolução para sua demissão seria apresentado nesta semana para aprovação. No entanto, a procuradora-geral de Israel, Gali Baharav-Miara, disse em carta que Netanyahu não tinha permissão sequer para iniciar o processo até que houvesse uma determinação sobre a legalidade da demissão do chefe do Shin Bet. Ela ressaltou preocupações de que isso se configuraria como conflito de interesses para o premiê.
A remoção de Bar, que lidera a agência desde 2021, provavelmente também seria apelada perante à Suprema Corte.
Membros da coalizão ultrarreligiosa de extrema direita que sustenta o governo de Netanyahu exigiram que Bar fosse demitido pelo que eles avaliam como sua “desvalorização” do primeiro-ministro. Eles também pediram a demissão de Baharav-Miara.
Lealdade acima de tudo
Em mensagem de vídeo publicada nas redes sociais, Netanyahu disse que a medida seria necessária porque ele não confia mais no diretor do Shin Bet.
“A qualquer momento — especialmente durante uma guerra existencial como esta — deve haver total confiança entre o primeiro-ministro e o diretor do Shin Bet”, justificou.
Bar revidou com uma declaração pública em que disparou que a exigência de “confiança pessoal” do premiê era contrária aos interesses do público.
“É uma expectativa fundamentalmente falha que está em contravenção com a lei e a política do Shin Bet”, disse ele.
Anteriormente, o chefe da segurança interna expressou intenção de permanecer em seu posto até que todos os reféns sequestrados pelo Hamas fossem devolvidos a Israel, e até que uma série de investigações sensíveis fossem concluídas. Ele também disse que queria terminar de treinar duas pessoas que descreveu como candidatas para sucedê-lo.
Nos últimos meses, dois outros líderes de segurança que não raro entraram em conflito com o primeiro-ministro também foram afastados: o então ministro da Defesa Yoav Gallant e o chefe do gabinete militar israelense Herzi Halevi.
Agora, há preocupações de que Netanyahu escolha um sucessor para Bar com base em considerações políticas e em lealdade pessoal.
Neste mês, o Shin Bet publicou um resumo de sua investigação sobre as falhas da agência perante o ataque liderado pelo Hamas em outubro de 2023, que também fez críticas ao governo israelense. Embora o resumo reconhecesse que a agência falhou em fazer um alerta sobre o ataque, disse que as políticas de Netanyahu encorajaram adversários, como o Hamas, colocando o país em uma posição vulnerável.