O papa Francisco pediu a líderes muçulmanos reunidos no Cairo, capital do Egito, que digam “um não forte e claro” a toda violência cometida em nome de Deus e alertou contra a “instrumentalização” da religião por parte do poder. O pontífice chegou ao país na manhã desta sexta-feira e disse que sua viagem visa promover à “unidade e fraternidade”.
“A violência, de fato, é a negação de toda religiosidade autêntica”, declarou o papa em fórum organizado pela Universidade de al-Azhar, instituição de referência para os muçulmanos sunitas. Para o papa Francisco, os responsáveis religiosos precisam “desmascarar a violência que se disfarça de suposta sacralidade” e assegurou que “é imprescindível excluir qualquer posição absoluta que justifique formas de violência”.
No discurso, ele também abordou o perigo que a proximidade da religião com o poder político pode representar. “Existe o risco de a religião ser absorvida pela gestão dos assuntos temporários e ser tentada pela sedução dos poderes mundanos que na realidade a instrumentalizam”, afirmou.
Passados 20 dias dos ataques do grupo jihadista Estado Islâmico (EI) contra duas igrejas cristãs coptas no norte do Egito, que causaram 46 mortes, o papa repetiu seu apelo contra o comércio de armas. Disse que para prevenir os conflitos e construir a paz é preciso eliminar as situações de “pobreza e exploração, onde mais facilmente agem os extremistas, e bloquear o trânsito de dinheiro e de armas para quem fomenta a violência”.
Encontro com o presidente
Assim que chegou ao país africano, o pontífice se reuniu em um encontro a portas fechadas no palácio presidencial com o chefe de Estado egípcio, Abdel Fatah Al Sisi. Criticado no exterior por violações dos direitos humanos, Sisi demonstrou certa abertura à comunidade cristã egípcia desde que chegou ao poder em 2014. Ele foi o primeiro presidente do Egito a participar de uma missa de Natal, em 2015, e prometeu aos coptas identificar os responsáveis pelos atentados do início de abril.
O papa também se reuniu com o grande imã sunita da mesquita de Al-Azhar, xeque Ahmed al-Tayeb, um professor de filosofia islâmica de 71 anos muito crítico dos jihadistas e que visitou o Vaticano em maio de 2016 após dez anos de relações frias.
Programação
A visita do Papa, que durará apenas 27 horas, será cercada por um forte esquema de segurança, enquanto o país segue em estado de emergência após os sangrentos atentados. No entanto, Francisco não quer se locomover em carro blindado, segundo o porta-voz da Santa Sé, Greg Burke, que afirma confiar no plano de segurança desenvolvido pelo ministério egípcio do Interior.
O líder espiritual de quase 1,3 bilhão de católicos também se reunirá, ainda nesta sexta-feira, com o papa copta ortodoxo do Egito, Tawadros II. Eles vão visitar a igreja copta de São Pedro e São Paulo, onde um atentado a bomba matou 29 vítimas em dezembro, no coração do Cairo. Os coptas, de tradição ortodoxa, representam cerca de 10% dos 92 milhões de egípcios. Sua história remonta aos primórdios do cristianismo.
No sábado, o pontífice celebrará uma missa e se encontrará com a comunidade católica egípcia de menos de 300.000 fiéis. A visita do papa ao Cairo visa, muito particularmente, consolidar as relações entre Al-Azhar e o Vaticano, tensas a partir de 2006, em razão das polêmicas declarações do papa Bento XVI associando o Islã e a violência.
(Com EFE e AFP)