O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou nesta segunda-feira, 26, que ainda é “muito cedo” para uma reunião com o chanceler do Irã, que fez uma visita surpresa à reunião do G7 no fim de semana, mas insistiu que Washington não busca uma mudança de regime em Teerã.
“Acredito que é muito cedo para uma reunião”, declarou Trump em uma entrevista coletiva, antas de afirmar que estava a par da visita do ministro iraniano das Relações Exteriores, Mohamad Javad Zarif, para conversas informais.
“Sabia da visita”, disse Trump sobre a viagem do chanceler, que foi organizada pelo presidente francês, Emmanuel Macron, em uma tentativa de desbloquear as negociações diplomáticas sobre o programa nuclear de Teerã.
“Estava a par de tudo que (Macron) estava fazendo e aprovei”, completou o presidente americano, ao afirmar que o governante francês havia solicitado sua “aprovação”.
O acordo nuclear de 2015, concretizado após negociações árduas entre as potências ocidentais e o Irã, ficou em suspenso após a saída abrupta em 2018 do governo dos Estados Unidos, que voltou a impor sanções a Teerã, o que afeta a economia iraniana.
Macron tenta desativar as tensões há vários meses e encontrar formas de retomar o diálogo. Nesse sentido, organizou a reunião com Zarif.
Trump insistiu que Washington está interessado apenas em deter as ambições nucleares de Teerã: “Não estamos buscando uma mudança de regime. Vejam como isso funciona (em outros países. O que queremos é muito simples… não nuclear”.
O americano afirmou ainda que o G7 está unido na questão do Irã com o objetivo comum de garantir que este país não adquira armamento nuclear.
Diálogo
Também nesta segunda, o presidente do Irã, Hassan Rohani, defendeu a opção do diálogo para resolver a crise a respeito do programa nuclear do país, em resposta às críticas da ala dura do regime após a visita de Zarif ao G7.
“Acredito que devemos usar todos os instrumentos para servir os interesses nacionais”, afirmou Rohani, em um discurso exibido ao vivo pela televisão estatal. “Se eu sei que vou a uma reunião que pode levar à prosperidade do meu país e resolver os problemas da população, não hesito nem por um instante”, completou.
“O essencial é o interesse nacional”, insistiu, sob os aplausos do público, durante um evento sobre as realizações do governo nas zonas rurais.
Viagem ‘infeliz’
Nesta segunda, o jornal ultraconservador Kayhan chamou de “infeliz” a viagem do ministro à França, por considerar que envia uma “mensagem de fragilidade e desespero”.
Essas iniciativas “são empreitadas sob a ótica imaginária de uma abertura, mas isso não vai dar nenhum resultado além de mais insolência e pressão” por parte dos Estados Unidos, insistiu o jornal.
O representante dos Guardiães da Revolução também viu nesse movimento esforços em vão.
“Sua hostilidade em relação à Revolução Islâmica e a este conflito são sem fim. Não podemos chegar a uma solução, ou a uma reconciliação pelo diálogo”, afirmou Abdollah Haji-Sadeghi.
“Não devíamos esperar o que quer que seja além de hostilidade”, completou, segundo a agência de notícias Isna.
Força e diplomacia
Já o jornal reformista Etemad classificou a visita de Zarif como o “momento mais promissor” desde a saída de Washington, há quinze meses, do pacto nuclear.
“Dados os esforços mobilizados por Macron nos últimos meses, esperamos que as respostas de Trump às ideias de Macron tenham sido a principal razão do deslocamento de Zarif a Biarritz”, escreveu o jornal.
Em meio aos ataques misteriosos a navios na região estratégica do Golfo, drones abatidos e petroleiros apreendidos, temeu-se uma escalada fora de controle nas tensões entre Irã e Estados Unidos.
Embora defenda o diálogo, o presidente Rohani disse também ser a favor do uso concomitante da linha dura.
“Se apreenderem nosso navio em qualquer lugar, negociamos e também podemos reter seu navio por razões legais”, explicou.
Ele se referia à situação do petroleiro iraniano retido ao longo da costa de Gibraltar e que foi liberado pelas autoridades britânicas na semana passada. Nesta segunda, Teerã afirmou que vendeu o petróleo que era transportado pelo navio.
“Podemos trabalhar com as duas mãos (…), a mão da força e a mão da diplomacia”, observou. “Temos de usar nossa força militar e de segurança, nossa força econômica e cultural e nossa força política. Temos de negociar. Temos de encontrar soluções”, declarou.
(Com AFP)