O primeiro-ministro eleito Benjamin Netanyahu informou ao presidente de Israel na quarta-feira 21 que conseguiu formar uma coalizão, abrindo caminho para a posse do governo mais direitista e antiárabe da história do país.
O anúncio foi feito minutos antes do prazo de meia-noite, estabelecido pelo presidente de Israel, Isaac Herzog, e ocorreu após semanas de negociações o partido Sionismo Religioso, um grupo ultranacionalista liderado por Bezalel Smotrich, um dos colonos mais poderosos dos assentamentos israelenses na Cisjordânia.
O acordo inclui um plano para realizar uma “reforma judicial” – eufemismo para enfraquecer a Suprema Corte e outros freios e contrapesos institucionais. Além disso, pede uma definição restritiva de quem é judeu e, portanto, quem pode obter cidadania automática sob a lei de retorno de Israel.
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O governo radical deve ser empossado em 2 de janeiro. A coalizão também incluirá outras figuras radicais da extrema direita, cujos objetivos declarados são enfraquecer o sistema judicial e consolidar ainda mais a ocupação dos territórios palestinos.
Em um sinal das políticas futuras, o parlamento aprovou na quarta-feira um projeto de lei para expandir a autoridade do novo ministro da Segurança Nacional, Itamar Ben-Gvir, sobre a polícia. Ele é chefe do partido Poder Judaico, que também faz parte da coalizão, e um discípulo do falecido rabino Meir Kahane, conhecido por sua postura xenofóbica em relação a árabes e acusações de terrorismo.
Ben-Gvir, que foi condenado por incitação ao racismo e apoio ao terrorismo, disse durante a campanha que abandonou algumas das posições de Kahane – mas muitos acreditam que foi uma jogada para evitar a desqualificação e atrair mais eleitores. (Ainda assim, fez campanha com um plano para expulsar cidadãos israelenses “desleais” e prometeu usar seu cargo para criar “ordem” diante do que a direita disse ser uma grave crise de segurança interna nas comunidades árabes de Israel).
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Em uma tentativa de amenizar as críticas internacionais, Netanyahu disse em entrevistas recentes que seu partido Likud, e não seus parceiros de coalizão, definiria a agenda política. No entanto, não há tanta diferença de ideologia entre alguns dos membros do Likud e os partidos de extremistas, e o novo premiê depende muito mais de seus colegas de coalizão do que o reverso.
Netanyahu está sendo criticado por supostamente fazer concessões à direita radical para garantir que a lei para “reformar” o judiciário seja aprovada. Isso poderia anular os processos de corrupção contra ele, que teriam potencial de colocá-lo atrás das grades.
Entre as mudanças planejadas, está uma lei que dá ao Knesset, Parlamento israelense, poderes para anular as decisões da Suprema Corte. Além de beneficiar Netanyahu, isso pode fazer com que vítimas de possíveis abusos policiais percam proteções legais, como árabes, membros da comunidade LGBTQIA+ (o quarto partido da coalizão, Noam, é abertamente homofóbico) e quaisquer opositores do governo.