Nova lei pode proibir uso do inglês na Itália, com multa de até R$ 500 mil
Proposta foi feita por deputado do partido do governo, Irmãos da Itália, ultranacionalista e conservador
Fabio Rampelli, deputado de extrema direita da Itália, propôs uma nova lei que pode proibir o uso da língua inglesa em documentos oficiais, em tramitação no parlamento nesta sexta-feira, 7. Em caso de descumprimento, o infrator seria multado em valores entre 5 mil e 100 mil euros (R$ 27,5 mil a R$ 551 mil).
Rampelli pertence ao partido da primeira-ministra Giorgia Meloni, chamado Irmãos da Itália, que chegou ao poder com uma plataforma ultra-nacionalista. De acordo com a agência de notícias italiana Ansa, contudo, o vice-premiê e ministro das Relações Exteriores, Antonio Tajani, informou que a lei é uma iniciativa exclusiva do político, não do governo como um todo, na tentativa de afastar a medida controversa da figura de Meloni.
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Quando questionado sobre a relação do projeto com a ideologia fascista, Tajani disse que “a defesa da língua italiana não tem nada a ver com [Benito] Mussolini”, referindo-se ao ditador que governou o país de 1938 a 1945.
Seu partido, no entanto, faz parte do maior governo de direita no país desde a Segunda Guerra Mundial e tem origens no movimento neofascista. Seu lema, “Dio, patria, e famiglia!” (Deus, pátria e família, em português), por exemplo, é emprestado de Mussolini.
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Meloni, que chegou ao poder em setembro do ano passado, se define como uma conservadora e nacionalista orgulhosa, mas alega não ter relações com o fascismo.
A Itália segue a pioneira França no combate ao anglicismo. Uma lei de 1994 exige uso do francês em publicações oficiais do governo, na publicidade, nos locais de trabalho, contratos comerciais e em todas as escolas públicas. O uso do inglês fica restrito, assim, a palavras que não existem na língua francesa.
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Forte defensora do idioma desde 1634, a Academia Francesa é conhecida pelas campanhas contra a infiltração da língua inglesa. Na última edição de recomendações “Dire-ne pas dire” (“Não diga e diga”, em tradução livre), a instituição reforçou a importância da tradução de termos estrangeiros para o francês ao condenar o uso de expressões como “wishlist” (lista de desejos) e “millennial” (apelido da geração Y, nascida entre 1980 e o fim do século 20).
No mês passado, ativistas processaram a Catedral de Notre-Dame, na França, pela falta de traduções de placas informativas para outra língua além do inglês. Caso o projeto de lei à moda francesa seja aprovado, Roma também teria um passe livre para multar empresas que usam termos anglicanos, bem como escolas e universidades.