Nova York quer processar governo Trump por separação de famílias
Governador do estado diz que dividir famílias é violação de direitos constitucionais e tragédia humana
O governador de Nova York, Andrew Cuomo, afirmou na terça-feira (19) que o estado pretende processar o governo de Donald Trump devido à separação de pais e filhos imigrantes na fronteira dos Estados Unidos. Cuomo, um democrata e adversário político do presidente, considera a divisão das famílias ilegal sob a constituição americana e “uma tragédia humana”.
Desde abril, quase 2000 crianças foram separadas de seus pais após cruzarem ilegalmente a fronteira. A ação faz parte da política de tolerância zero do governo Trump, anunciada pelo secretário de justiça Jeff Sessions. Segundo essa política, imigrantes que forem pegos cruzando ilegalmente a fronteira sul dos Estados Unidos com o México serão processados e terão seus filhos levados.
As separações têm causado controvérsia dentro e fora do país. A divulgação de imagens que mostram crianças dormindo em gaiolas e um áudio no qual é possível ouvi-las chorando e implorando por seus pais, causou revolta. Segundo jornalistas que tiveram acesso aos abrigos, menores com idades entre 1 e 18 anos dormem em colchões sobre concreto em unidades rodeadas de cercas metálicas que dão, ao conjunto, a impressão de uma enorme jaula.
“A política do governo Trump de dividir famílias é um fracasso moral e uma tragédia humana”, disse Cuomo em comunicado anunciando o processo. “Nova York agirá e entrará com um processo para acabar com este ataque insensível e deliberado contra as comunidades de imigrantes e acabar com essa política sem coração de uma vez por todas”.
Segundo o governador, separar pais e crianças na fronteira viola seus direitos sob a Constituição dos Estados Unidos, precedentes da Suprema Corte do país e um acordo legal de 1997 que estabelece padrões para o tratamento de crianças detidas por razões imigratórias. “Não toleraremos os direitos constitucionais das crianças e seus pais serem violados pelo nosso governo federal”.
Mais cedo, Cuomo enviou uma carta ao vice-presidente americano, Mike Pence, condenando a política.
De acordo com seu gabinete, cerca de 70 crianças estão em abrigos localizados em Nova York, algumas delas na própria cidade de Nova York, em bairros como o Bronx. Na segunda-feira, ele anunciou que chamaria de volta suas tropas da Guarda Nacional que faz a segurança da fronteira se a política continuasse. Governadores do Colorado e Massachusetts anunciaram o mesmo.
Um porta-voz do governo Trump não pôde ser imediatamente contatado para comentários sobre o processo de Nova York.
Autoridades dos Estados Unidos defendem as medidas controversas como uma maneira de proteger a fronteira e impedir entrada ilegal. Trump, um republicano, fez da postura linha-dura sobre imigração uma peça central de sua Presidência.
Democratas e o Papa criticam a política
Em protestos nos corredores do Capitólio, democratas condenaram o governo Trump pela política de tolerância zero.
“Presidente, por acaso o senhor não tem filhos?!”, gritou Juan Vargas, membro da Câmara de Representantes, quando Trump saía de uma reunião com seus aliados republicanos. “Gostaria de ser separado de seus filhos?!”, insistiu.
Trump se limitou a virar e a sorrir para as câmeras situadas atrás de meia dúzia de legisladores democratas que exibiam fotos de menores chorando e cartazes com a frase: “Famílias devem permanecer unidas”.
“Deixe de separar as crianças” de seus pais, gritou outro parlamentar, enquanto a equipe da Casa Branca, incluindo a secretária de Segurança Interna, Kirstjen Nielsen, caminhava pelos corredores após a reunião sobre imigração com legisladores republicanos.
Longe de ceder à polêmica causada pela separação de famílias, Trump quer que os republicanos apresentem um projeto de lei para regularizar a situação.
O Papa se uniu aos críticos de Trump. Em entrevista à agência Reuters nesta quarta-feira (20) – dia mundial do refugiado – o Papa Francisco disse apoiar os bispos americanos que chamaram a separação de família de “imoral” e “contrária aos valores católicos”
(Com Reuters e AFP)