Nove pessoas são presas após confrontos em ‘caçada’ a imigrantes na Espanha
Estopim de distúrbios aconteceu na sexta-feira, após ataque a um morador idoso, que alegou que um dos agressores era marroquino

Nove pessoas foram presas após três noites de confrontos entre grupos da extrema direita e imigrantes norte-africanos na cidade de Torre Pacheco, no sudeste da Espanha, segundo informações divulgadas pelo governo nesta segunda-feira, 14.
O estopim dos distúrbios aconteceu na sexta-feira, após um ataque a um morador idoso, que alegou que um dos agressores era marroquino. Segundo o Ministério do Interior, dois dos detidos estariam envolvidos no crime, embora o principal autor continue foragido. Em resposta, grupos da extrema direita convocaram atos de violência contra migrantes na cidade de 35.000 habitantes — um deles, chamado “Depórtenlos ya” (deportem-os já), incentivou no Telegram uma “caçada” contra pessoas de origem norte-africana.
Segundo a Guarda Civil da Espanha, mais de 20 veículos carregando “itens perigosos” viajaram para a cidade com o objetivo de se juntar aos tumultos. Na noite de domingo, 13, houve confronto entre a polícia e membros de grupos extremistas, que teriam jogado garrafas de vidro e outros objetos contra os agentes, que responderam com balas de borracha para dispersar a multidão.
Ao todo, cinco cidadãos espanhóis e um homem de origem norte-africana foram presos por crimes como agressão, incitação ao ódio, desordem pública e danos ao patrimônio público. Somam-se a eles os dois presos pela agressão ao idoso, totalizando nove detidos durante os distúrbios.
Até o momento, cinco pessoas ficaram feridas. Segundo o ministro do interior espanhol, Fernando Grande-Marlaska, o número de guardas civis será “ampliado a partir de terça-feira e nos dias seguintes até que a situação esteja controlada”.
Para o prefeito de Torre Pacheco, Pedro Ángel Roca, a situação foi “controlada” na noite de domingo devido à ação da polícia. Em declaração à emissora pública TVE, Roca afirmou que 30% dos moradores da cidade são imigrantes. “São pessoas que vivem aqui há mais de 20 anos. Tem filhos, e a segunda geração já nasceu na cidade”.
Em nota, a Associação Marroquina para a Integração dos Imigrantes afirmou que “as ameaças, os ataques e o medo nas ruas precisam acabar”, e pediu proteção real para as pessoas afetadas.
De acordo com Fernando Grande-Marlaska, “grupos organizados” nas redes sociais incitaram a violência. Ele afirmou que a Polícia Nacional busca identificar os responsáveis pelas contas que convocaram agitadores à cidade.
O líder regional do Vox — partido de extrema direita espanhol –, José Angel Antelo, passou o final de semana postando acusações nas redes sociais, afirmando que os “ilegais” são responsáveis por cometer crimes em Torre Pacheco, e incentivando seus seguidores a “recuperar a paz e a segurança” no local.
A ala regional de Múrcia do Partido Socialista Espanhol fez uma denúncia junto ao Ministério Público contra Antelo, afirmando que a retórica xenófoba do político constitui crime de ódio.
O episódio ecoou outras tensões na região. Em 2000, protestos violentos irromperam em El Ejido, no sul do país, após a morte de três espanhóis por imigrantes marroquinos.