Um relatório do Programa Alimentar Mundial das Nações Unidas, divulgado nesta segunda-feira, 18, revelou que a fome generalizada “é iminente” no norte da Faixa de Gaza. Além disso, o documento afirma que toda a população do enclave, mais de 2 milhões de pessoas, enfrenta pelo menos insegurança alimentar aguda.
O relatório IPC (acrônimo em inglês para Classificação Integrada da Fase de Segurança Alimentar) prevê que a fome chegue entre este mês e maio nas duas províncias do norte de Gaza, onde ainda vivem cerca de 300 mil pessoas.
“O limiar entre insegurança alimentar aguda e fome já foi largamente excedido, enquanto a subnutrição aguda entre as crianças com menos de cinco anos avança a um ritmo recorde, em direção ao limiar da fome”, afirmou o relatório, destacando que os dados continuam limitados, como é típico das zonas de guerra.
Pontos principais
No geral, o novo estudo mostra que 1,1 milhões de pessoas em Gaza – cerca de metade da população – esgotaram completamente os seus estoques de comida. Atualmente, essa parcela dos habitantes está na Fase 5 do IPC (luta contra a fome catastrófica e inanição). O número dobrou de três meses para cá, e agora bateu o recorde do maior número de vítimas de fome catastrófica já registrado.
As províncias de Deir al Balah, Khan Younis e Rafah, mais ao sul de Gaza, estão na Fase 4 do IPC (situação de emergência) e também correm o risco de cair em condições de fome até julho de 2024.
O relatório observou ainda uma tendência de aumento acentuado da desnutrição em toda a Faixa de Gaza. Na província de Gaza Norte, os dados mais recentes indicam que uma em cada três crianças com menos de dois anos de idade está agora gravemente desnutrida ou “definhada” – perigoso desequilíbrio entre peso e altura, que as coloca em risco de morte. Antes do início da guerra, apenas 1% da população sofria de desnutrição aguda.
“As pessoas em Gaza estão morrendo de fome neste momento. A velocidade com que esta crise de fome e desnutrição provocada pelo homem se alastrou por Gaza é assustadora”, afirmou a diretora executiva do Programa Alimentar Mundial, Cindy McCain. “Resta uma janela muito pequena para evitar uma fome total e para isso precisamos de acesso imediato e total ao norte. Se esperarmos até que a fome seja declarada, será tarde demais. Outros milhares estarão mortos.”
Soluções
O IPC das Nações Unidas afirma que a situação emergencial pode ser freada se agências humanitárias tiverem acesso total a Gaza para fornecer alimentos, água, produtos nutricionais, medicamentos e serviços de saúde e saneamento em grande escala. “Para que isto seja possível, é necessário um cessar-fogo humanitário“, defende o relatório.
O Programa Alimentar Mundial estima que a resposta às necessidades alimentares básicas da população palestina exigirá que pelo menos 300 caminhões entrem em Gaza por dia, distribuindo alimentos especialmente no norte do território.
Para isso, o órgão e os seus parceiros humanitários “precisam que Israel forneça mais pontos de entrada em Gaza, acesso direto através de travessias no norte e a utilização do porto de Ashdod, em Israel, para trazer ajuda alimentar”, defendeu o vice-diretor executivo e diretor de operações do Programa Alimentar Mundial, Carl Skau.