O conselheiro especial americano, Robert Mueller, possui uma lista com cerca de 50 perguntas que pretende fazer ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre a suposta interferência russa nas eleições de 2016. As dezenas de perguntas podem ser separadas em quatro temas principais: a demissão do antigo conselheiro de segurança nacional de Trump Michael Flynn; a demissão do ex-diretor do FBI James Comey; a relação com o procurador-geral, Jeff Sessions, e coordenação russa em sua campanha presidencial.
As questões foram lidas pelos investigadores do conselho especial para os advogados do presidente e posteriormente compiladas na lista à qual o jornal americano The New York Times teve acesso. O jornal publicou todas as perguntas em seu site na segunda-feira (30). O tom das questões de Mueller aponta como foco a obstrução de Justiça.
Por meio do Twitter, Donald Trump disse ser “escandaloso” o vazamento das perguntas ao jornal. “Inventaram um delito absurdo, o conluio, que nunca existiu e uma investigação que começou com um vazamento ilegal de informações confidenciais”, escreveu.
“Pareceria muito difícil obstruir a Justiça por um crime que nunca foi cometido! Caça às bruxas!”, alegou Trump, em um segundo tuíte.
O primeiro tópico de perguntas se concentra na demissão do primeiro assessor de segurança nacional de Trump, Michael Flynn. As questões sobre o assessor buscam investigar se Trump obstruiu a Justiça para proteger Flynn da acusação de conluio com a Rússia. “O que você sabia sobre os telefonemas que o Sr. Flynn fez ao embaixador russo, Sergey I. Kislyak, no final de dezembro de 2016?”, é uma das questões.
Mueller também quer saber as reais motivações de Trump para ter demitido James Comey do cargo de diretor do FBI. Na época, a Casa Branca justificou que ele rompeu com a política do Departamento de Justiça e falou publicamente sobre a investigação do servidor de e-mail de Hillary Clinton, a concorrente democrata de Trump nas eleições de 2016. Nas questões, o conselheiro procurar saber se a investigação de interferência russa teve influência na demissão. “Quanto à decisão de demitir o sr. Comey: Quando foi feito? Por quê? Quem desempenhou esse papel?”.
A relação conturbada de Trump com o procurador-geral Jeff Sessions também é objeto de dúvidas do conselheiro. O presidente teria humilhado Sessions quando este apresentou seu interesse de renunciar da investigação sobre a Rússia. Trump não a aceitou. “O que você achou e fez em relação à renúncia do sr. Sessions?”.
O suposto interesse do presidente em demitir o próprio Mueller também faz parte do pacote de perguntas. “Que discussões você teve em relação à rescisão do conselho especial e o que você fez quando essa consideração foi relatada em janeiro de 2018?”, o conselheiro quer saber.
Embora haja esta lista de perguntas direcionadas ao presidente, Donald Trump não é investigado sobre o caso, pois, durante o período de exercício da função, um presidente não pode ser investigado. No entanto, por diversas vezes, Mueller demonstrou interesse em conversar com o presidente, principalmente para tratar da demissão de Comey. O próprio Trump já demonstrou interesse em responder às questões de Mueller para acelerar as investigações.
Os advogados de Trump, no entanto, não acham apropriado que ele converse com o conselheiro, dada sua fama de proferir falsas declarações, o que seria considerado crime diante de um caso como este. Para evitar a conversa, os advogados insistiram para que Mueller enviasse previamente suas perguntas, resultando assim na lista obtida pelo Times através de uma fonte que não pertence a equipe jurídica de Trump.
Após conhecer as questões, os advogados decidiram que Trump definitivamente não deveria respondê-las, algo que o presidente mostrou diversas vezes a intenção de não cumprir. Por esse motivo, seu principal advogado, John Dowd, pediu demissão. O novo advogado, Rudolph W. Giuliani, ex-prefeito de Nova York, tem se reunido com Mueller para determinar se, em uma possível entrevista, o conselheiro seria objetivo.
Durante as investigações, quatro pessoas já se declararam culpadas por mentirem no inquérito sobre Rússia, uma delas é Michael Flynn.