O criptogate de Javier Milei
Depois de uma manobra financeira eletrônica conhecida como “puxada de tapete”, mais de 40 000 pessoas saíram perdendo

Tinha tudo para dar errado — e deu. O boquirroto presidente argentino, Javier Milei, deu de bater o tambor no X em torno de uma moeda digital, a $LIBRA. Depois de alardear a novidade — “o mundo quer investir na Argentina” —, o valor do ativo encostou em 4 978 dólares enquanto estava nas mãos de poucos, na sexta-feira 14. Não demorou para cair dos céus, e foi ao chão. O resultado, previsível dada a especulação frenética: depois de uma manobra financeira eletrônica conhecida como “puxada de tapete”, mais de 40 000 pessoas saíram perdendo, em um total de 4 bilhões de dólares. Foi um estrago. No escândalo já batizado de “criptogate”, Milei está sendo processado por associação ilícita, fraude e descumprimento dos deveres de funcionário público. Oposicionistas e especialistas o acusam de endossar uma pirâmide financeira. Em entrevista à televisão, disse ter agido de boa-fé. “Se você vai ao cassino e perde dinheiro, qual é a reclamação, se você sabia que tinha essas características?”, afirmou, sustentando a tese de que o Estado saiu incólume. Será? O principal índice de ações da bolsa de Buenos Aires despencou 5,58% no início da semana. Ainda não são claras quais serão as consequências para Milei — mas já há um pedido de impeachment, que muito dificilmente vingará. O caso, porém, reacende a preocupação com o estilo impulsivo do mandachuva. Sorte dos conterrâneos que estão no Brasil torrando pesos, ainda fortes em relação ao real. Milei, o Trump dos Pampas, não é para amadores.
Publicado em VEJA de 21 de fevereiro de 2025, edição nº 2932