É bom prestar atenção nos candidatos a vice-presidente dos Estados Unidos, é o que ensina a história recente. Joe Biden foi o número 2 de Barack Obama. Kamala Harris, que disputa a Casa Branca com Donald Trump, chegou a Washington em 2021 na chapa de Biden. As atenções, portanto, voltaram-se, na terça-feira 1º, para o debate (primeiro e único) entre o republicano J.D. Vance, senador por Ohio, e o democrata Tim Walz, governador de Minnesota. Eles foram à luta em um estúdio de televisão de Nova York — calmos e cordatos, em nós de gravatas elegantes — com uma única missão: evitar erros grotescos que prejudiquem seus mestres nas eleições de 5 de novembro. Vance e Walz, opostos que não se atraem em nada, são crias do Meio-Oeste americano, região em que a disputa é sempre muito acirrada, voto a voto. O parceiro de Trump teve o cuidado de mostrar-se mais educado, de aparência jovial — um modo de jogar para debaixo do tapete uma imensa tolice que ele mesmo inventou e colou a Trump, a bizarra mentira sobre o grupo de imigrantes do Haiti que estariam comendo cães e gatos domésticos. Admitiu, na maior cara de pau, ter sido exagero. Walz, sabidamente rápido de raciocínio e irônico, pisou em ovos, zeloso. Foi embate agradável, com rápidas pinceladas em torno da crise no Oriente Médio, mas nada que se compare à temperatura mercurial das diatribes dos cabeças da turma. Que bom se fosse sempre assim, na política, ainda que a desfaçatez costume encobrir reais intenções.
Publicado em VEJA de 4 de outubro de 2024, edição nº 2913