O.K., vocês venceram: por que Justin Trudeau jogou a toalha
O primeiro-ministro do Canadá anunciou na segunda-feira 6 sua renúncia à liderança do Partido Liberal

Na frente da fachada de tijolinhos de Rideau Cottage, sua residência em Ottawa, com o nariz vermelho pelo frio abaixo de zero, o primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, 53 anos, anunciou na segunda-feira 6 sua renúncia à liderança do Partido Liberal, o que equivale ao afastamento de fato da chefia do governo. Não é para já. Trudeau pediu e conseguiu um prolongamento do recesso do Parlamento até 24 de março, torcendo para que seu partido consiga eleger seu substituto até lá (enquanto isso, segue no cargo). Visivelmente abalado, o primeiro-ministro pouco lembrava o político charmoso e bonitão que cativou seus pares (e as esposas deles) durante boa parte de seus nove anos de governo. Depois de passar meses jurando que não renunciaria, foi dobrado pelo peso da impopularidade: 73% dos canadenses pediam que saísse. Sua queda espelha esses tempos de extrema má vontade popular com o status quo. Em 2024, o PIB canadense cresceu 3,5%, pouco mas não péssimo, e a inflação fechou em 2%, incômoda mas não inviável. O que subiu sem parar foi a insatisfação geral com preços que não baixam, serviços públicos deficientes e uma crise imobiliária aguda, fazendo do primeiro-ministro o bode expiatório da crise. Para piorar, pegou muito mal sua ida apressada e meio humilhante a Mar-a-Lago assim que Trump ameaçou impor tarifas ao Canadá (que desde então ele chama de “51º estado americano”). Tudo aponta para novas eleições no primeiro semestre e derrota fragorosa do partido do ex-queridinho Trudeau.
Publicado em VEJA de 10 de janeiro de 2025, edição nº 2926