Esperava-se que o governo de Donald Trump fosse completamente diferente dos anteriores, imprevisível, pelo menos no quesito política externa. O republicano reclamava dos esforços além mar de seus antecessores e prometia uma política isolacionista. Passou. Ao menos nas últimas semanas, a administração adotou posturas bastante tradicionais.
“Trump mudou de opinião sobre pontos, mas o perigo da incerteza permanece. Ninguém sabe ao certo para onde ele vai. A questão da Coreia do Norte, por exemplo, parece simples para ele, mas não é. Ele é ambíguo e isso abre caminho para possíveis falhas de comunicação que terminam em guerras”, diz o cientista político americano Paul Musgrave, da Universidade Massachusetts-Amherst.
Destacam-se a distância entre as promessas feitas por Trump e sua postura em relação a política monetária da China e a relevância da Organização para o Tratado do Atlântico Norte (Otan) .
O próprio presidente admitiu: “Eu me queixei sobre isso faz tempo. Disse que era obsoleta. Já não é obsoleta”, disse sobre a Otan após um encontro com o secretário-geral da organização, Jens Stoltenberg, no início de abril. Sobre Pequim, também voltou atrás: “Não são manipuladores da moeda”, afirmou ao jornal Wall Street Journal.
Durante a campanha, também questionou constantemente os gastos com a guerra na Síria e a necessidade de tirar Bashar Assad do poder quando, na verdade, em sua opinião o único problema do país é o grupo terrorista Estado Islâmico. Pouco mais de dois meses no poder foram suficientes para redefinir suas prioridades: Trump autorizou o lançamento de 59 mísseis Tomahawk contra uma base aérea em Homs após um ataque químico do regime sírio.
Para muitos especialistas, as ações militares dos últimos meses (lançamento de mísseis na Síria e bombardeio no Afeganistão) são formas de transmitir uma mensagem de força para o mundo. O modo com que a administração está lidando com as ameaças da Coreia do Norte também mostra vigor, o que pode ser positivo e, ao mesmo tempo, perigoso.
O que deu errado?
As relações mais delicadas dos Estados Unidos estão na Ásia. Qualquer passo em falso pode significar o fim da influência americana e o aumento da esfera de poder dos chineses.
A forma como Trump lidou com o continente asiático tenha sido seu maior desvio da política tradicional republicana até agora. São necessárias pessoas inteligentes, sofisticadas e, acima de tudo, disciplinadas para conduzir as negociações na região. O presidente, porém, escolheu como uma de suas primeiras ações retirar os Estados Unidos do Acordo Transpacífico de Cooperação Econômica (TPP, na sigla em inglês) e modificar totalmente os elos construídos pela última administração.
O apoio aos governos autoritários da Turquia, Egito e Arábia Saudita também foi considerado uma grande falha da equipe montada pelo republicano. Nenhum destes países refletem genuinamente os valores defendidos pela política americana e todos seus governos caminham para direções perigosas.
A nomeação do general Michael Flynn como Conselheiro de Segurança Nacional durou apenas 20 dias e manchou o início da nova administração. Posições importantes nos Departamentos de Defesa e de Estado também ainda não foram ocupadas. Ainda assim, muito se fala sobre os principais nomes no comando da política externa americana e sua influência positiva na mudança de postura de Trump.
Aprendizado
Os trabalhos do Secretário de Defesa James Mattis, do Secretário de Estado Rex Tillerson e do substituto de Flynn, general H.R. McMaster, têm sido elogiados até agora. Ao que parece, a experiência da equipe tem influenciado positivamente as ações do presidente, que nas últimas semanas está ouvindo com mais frequência seus conselhos sobre política internacional e segurança.