O que esperar do debate inédito entre Trump e Kamala, nesta terça-feira
Primeiro encontro entre os candidatos será transmitido pela emissora americana ABC News, às 22h (no horário de Brasília)
Às vésperas do debate eleitoral, o ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, encontra-se em terreno desconhecido contra Kamala Harris. Principalmente quando comparado ao último embate com o atual mandatário, Joe Biden, no final de junho.
O desastroso desempenho do político de 81 anos, que mostrava um olhar perdido e falta de linha de raciocínio, colocou sua candidatura em maus lençóis e levou à toda sorte de pressões de membros do Partido Democrata para que abandonasse o páreo.
Um mês mais tarde, Biden anunciou o fim da busca pela reeleição e endossou a indicação da sua vice, Kamala Harris. É ela, ex-senadora pela Califórnia, que enfrentará o republicano no debate desta terça-feira, 10. Aos 59 anos, Kamala trouxe vigor para a campanha democrata. Em agosto, foi capa da revista americana Time, com tom elogioso.
“Harris conseguiu a mudança de vibe mais rápida da história política moderna. Uma disputa que girava em torno do declínio cognitivo de um presidente geriátrico foi transformada: Joe Biden está fora, Harris está dentro, e uma segunda presidência de Donald Trump não parece mais inevitável”, disse a reportagem.
Apesar da mudança de jogo, há uma luta acirrada pela conquista dos eleitores. Uma pesquisa nacional do jornal americano The New York Times em parceria com a Siena College indicou que Trump está, por pouco, à frente de Harris, com 48% a 47%, respectivamente. A sondagem tem margem de erro de três pontos percentuais — um cenário parecido ao aferido em julho pelo Times/Siena. Para tentar ampliar a vantagem, os dois aumentarão a aposta no debate e, para isso, contam com uma equipe aguerrida nas coxias.
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Harris x Trump: Quem está por trás
A vice-presidente conta com o apoio do consultor Philippe Reines, ex-assessor de Hillary Clinton. Como parte de sua estratégia, Harris busca descredibilizar Trump e apresentá-lo como um porta-voz de mentiras, que teriam como objetivo desmoralizar o Partido Democrata. Espera-se que, com a orientação de Reines, Kamala consiga manter a serenidade mesmo sob ataques do republicano para, em seguida, adotar um tom combativo.
“Ela é muito calma”, disse a senadora democrata do Havaí, Mazie Hirono, colega de Kamala por quatro anos no Comitê Judiciário do Senado. “Não acho que Trump será capaz de intimidá-la, que é sua tática usual.”
Trump, por sua vez, participou de sessões com a ex-congressista democrata Tulsi Gabbard, que enfrentou Kamala num debate para a nomeação democrata em 2020. Em diversas vezes, ele também se reuniu informalmente com conselheiros políticos para explorar quais questões devem despontar ao longo do debate. Nos encontros, o ex-presidente procura, ainda, tratar sobre suas políticas do primeiro mandato (2017-2021) e o suas propostas para caso retorne ao comando da Casa Branca.
Além disso, o republicano procura descredibilizar os moderadores da emissora americana ABC News, que sediará o embate, às 21h (22h no horário de Brasília). Ele alega que não será tratado de maneira justa, mas disse estar comprometido a não interromper Kamala, como fez com Biden. “Eu o deixei falar. Vou deixá-la falar”, frisou Trump em evento do canal de TV Fox News.
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Os preparativos
Para manter o foco, a democrata está enclausurada em um hotel em Pittsburgh, enquanto enfrenta treinos intensos para aprimorar suas respostas dentro do tempo limite (2 minutos, segundo as regras do debate). A escolha pela cidade na Pensilvânia se deu para que Kamala pudesse ter contato com eleitores de estados indecisos. Por lá, ela está acompanhada de assessores desde a última quinta-feira, 5.
Em contrapartida, embora tenha participado de reuniões informais, Trump optou por lotar a agenda com eventos de campanha e colocar o estudo em segundo plano. “Você pode adotar toda a estratégia que quiser, mas precisa sentir o clima enquanto o debate acontece”, afirmou ele em entrevista ao apresentador da Fox News, Sean Hannity.
Também há diferenças nas estratégias adotadas pelos dois para o vale-tudo. Trump deseja colocar Harris na defensiva e marcá-la como liberal demais. Ele pretende, ainda, criticar o histórico econômico da chapa Biden-Harris. Em comparação, Kamala tentará mostrar-se ao público como uma política convincente, com propostas claras. Ou seja, uma alternativa segura contra o imprevisível Trump.
“Devemos estar preparados para o fato de que ele não se sente pressionado a dizer a verdade”, destacou ela em uma entrevista de rádio ao Rickey Smiley Morning Show. “Ele tende a lutar por si mesmo, não pelo povo americano, e acho que isso ficará evidente durante o debate.”