Ao longo da semana passada, membros do grupo terrorista islâmico Hamas, que governa a Faixa de Gaza, depositaram pneus perto da fronteira com Israel e armaram barracas. De dentro delas, eles pretendem comandar os protestos agendados para a sexta-feira, 6. O objetivo é repetir a manifestação do dia 30 de março quando, aos gritos de “morte aos judeus”, cerca de 30 000 palestinos lançaram pedras e coquetéis molotov contra os soldados israelenses.
A reação era previsível. Os israelenses dispararam bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha. Tiros com munição de verdade foram desferidos contra os que abriram fogo contra os soldados ou instigavam os demais. Dezenove morreram, sendo que onze eram membros do grupo terrorista islâmico Hamas ou da Jihad Islâmica. Centenas ficaram feridos.
Empurrar civis para uma situação de alto risco em nome de uma causa política é uma atitude altamente condenável, usual entre os dirigentes do Hamas. Em Israel, organizações de defesa direitos humanos reclamaram dos tiros disparados pelos soldados. Pelo histórico da região, não há muita razão para hesitar no gatilho. Nas últimas semanas, terroristas armados se infiltraram em Israel com o objetivo de causar o maior número de vítimas possível.
Ao final, vidas foram ceifadas para que o Hamas colocasse sua causa de volta ao noticiário. Os protestos, que só devem terminar em 15 de maio, fazem parte da Marcha para o Retorno, que defende o direito dos descendentes dos refugiados árabes de entrar em Israel. É uma bandeira antiga, que foi reativada por razões mais práticas.
O Hamas, islâmico, e o Fatah, o partido menos radical que governa a Cisjordânia por meio da Autoridade Palestina (AP) e pretende estender seu comando à Faixa de Gaza, andam às turras. Em março, o comboio do primeiro-ministro Rami Hamdallah, da AP, foi atingido pela detonação de uma bomba ao entrar em Gaza. Sete seguranças ficaram feridos.
Na rixa entre as facções, a AP suspendeu a ajuda para Gaza e o pagamento de salários dos funcionários públicos. “O Hamas quer mostrar que é popular e relevante em meio às sanções da Autoridade Palestina e a perda de apoio internacional”, diz o historiador americano Paul Scham, da Universidade de Maryland.
Outra possível explicação por trás da Marcha para o Retorno pode estar na reaproximação com o Irã. Ao se recusar a atacar a população síria e defender o ditador Bashar Assad, em 2011, o Hamas teve de fechar a sede em Damasco e perdeu um de seus patrocinadores. Mas a cicatriz está sendo fechada. Em fevereiro do ano passado, Yahya Sinwar, da ala militar do Hamas, foi eleito para comandar também o braço político. Ele é um grande comparsa do Irã.
Em agosto, uma delegação do Hamas foi a Teerã para acompanhar o início do segundo mandato do presidente iraniano Hassan Rouhani. O aumento da influência dos aiatolás significa que o Hamas ficará ainda mais belicoso e tentará provocar mais confusão ao redor do mundo. A escolha de Israel como alvo dos protestos é natural, dado que esse país tem atingido alvos iranianos na Síria. Além disso, Israel tem recebido elogios da Arábia Saudita, principal rival dos persas. “O Irã é especialista em criar distúrbios pelo mundo e a Guarda Revolucionária do país faz parte da tomada de decisões do Hamas”, diz o cientista político André Lajst, da organização StandWithUs.