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O que provocou a guerra entre Israel e o Hamas? Entenda

A ofensiva do grupo militante em Gaza representa um grande fracasso da inteligência de Tel-Aviv. As consequências devem ser duradouras

Por Pedro Cardoni
Atualizado em 9 out 2023, 19h03 - Publicado em 9 out 2023, 11h32

O último sábado, 7, dia final dos feriados judaicos em Israel, foi marcado pelo som das sirenes de alerta contra ataques. O movimento palestino do Hamas disparou milhares de foguetes de Gaza e militantes armados derrubaram as barreiras israelenses de alta tecnologia que cercavam a faixa, iniciando ataques por terra e fazendo reféns. Combatentes em barcos também entraram em Israel por mar.

Militantes do Hamas se infiltraram em comunidades judaicas perto da fronteira com Gaza, matando e capturando civis e soldados. Nos prédios mais novos da região, muitas pessoas se refugiaram em quartos seguros, construídos para a proteção de ataques como esse, em meio à carnificina .

Centenas de jovens num festival de música que durou toda a noite no sul de Israel foram atacados. De acordo com as autoridades, 260 corpos foram encontrados no local.

+ Navios de guerra dos EUA se aproximam de Israel após ataque do Hamas

Ao anoitecer do último sábado 7, as Forças de Defesa de Israel (FDI) estimaram que ainda havia entre 200 e 300 militantes palestinos dentro de Israel. Militares israelenses, nesta segunda-feira, 9, disseram que conseguiram retomar o controle de oito “pontos de combate” e todos os territórios invadidos pelo Hamas.

A ofensiva sem precedentes deve ter repercussões e consequências duradouras. O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, declarou que Tel-Aviv estava em guerra e que os palestinianos pagariam um preço alto pelo ataque.

O país convocou pelo menos 300 mil reservistas do exército e lançou uma onda de ataques aéreos em Gaza, onde vivem 2,3 milhões de pessoas. Netanyahu alertou os palestinos que moram na região para “saírem de lá agora”, prometendo reduzir os esconderijos do Hamas a “escombros”. No entanto, o território está bloqueado e não há para onde escapar.

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No final de semana, o presidente americano, Joe Biden, disse que os Estados Unidos estão “ao lado do povo de Israel diante destes ataques terroristas”.

“O apoio da minha administração à segurança de Israel é sólido e inabalável”, declarou o chefe da Casa Branca.

Após a invasão do Hamas, aviões de guerra israelenses atacaram vários edifícios no centro da Cidade de Gaza, incluindo a Torre Palestina, um edifício de 11 andares que abriga estações de rádio do Hamas. O governo também levantou a possibilidade de uma invasão terrestre, mas a operação pode ser complicada devido à quantidade elevada de reféns que os militantes dizem ter feito. Nesta segunda-feira, o Hamas afirmou que bombardeios de Israel mataram 4 reféns.

Em paralelo, o Ministério da Defesa israelense declarou que cortou o fornecimento de eletricidade e combustível a Gaza, o que poderá em breve afetar hospitais e clínicas de saúde do território, que já estão sobrecarregados devido aos feridos pelos ataques aéreos de Tel-Aviv.

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+ Israel diz que retomou território do Hamas e declara ‘cerco total’ a Gaza

Até o momento, segundo o porta-voz das FDI, Daniel Hagari, pelo menos 700 israelenses foram mortos e cerca de 2 mil feridos foram levados a hospitais, sendo que 19 deles estão em estado crítico. Hagari disse que mais de 400 militantes palestinos foram mortos no sul de Israel e na Faixa de Gaza, e que dezenas de outros foram capturados.

O Ministério da Saúde palestino, por sua vez, informou que pelo menos 400 palestinos foram mortos nas últimas 48 horas, incluindo 20 crianças, e quase 2 mil pessoas foram feridas nos ataques israelenses em Gaza. Sete pessoas também foram mortas por tiros do exército israelense na Cisjordânia, incluindo uma criança.

As razões exatas para o ataque do Hamas ainda não ficaram claras, a violência entre soldados e colonos israelenses e palestinos na Cisjordânia vem aumentando há meses. Colonos judeus armados invadiram aldeias palestinas, militantes na Cisjordânia atacaram soldados e colonos, e houve repetidas investidas das FDI em cidades palestinas.

Na semana passada, alguns judeus rezaram dentro do complexo da mesquita de Al-Aqsa, na Cidade Velha de Jerusalém. Seguidores da religião são proibidos rezar dentro do complexo, portanto o gesto foi visto como altamente provocativo. Não à toa, o Hamas chamou a sua ofensiva de “Operação Dilúvio Al-Aqsa”.

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+ Ataque durante festival de música deixa ao menos 260 mortos em Israel

A área ao redor da mesquita é conhecida pelos muçulmanos como Haram al-Sharif, o terceiro lugar mais sagrado para o Islã, depois de Meca e Medina, na Arábia Saudita. Para os judeus, o local é conhecido como Monte do Templo, onde ficaria o templo judaico bíblico.

Por trás do aumento das tensões também está o bloqueio de Gaza por parte de Israel e do Egito. Em vigor há 16 anos, quase destruiu a economia interna da faixa e causou dificuldades às pessoas que ali vivem. Os nacionalistas religiosos extremistas que fazem parte do governo de coligação de direita de Israel defendem veementemente a anexação da Palestina ao Estado judeu.

A vigilância de Israel sobre Gaza, além disso, é intensa. O governo monitora a atividade, as comunicações e a vida diária dos habitantes locais por meio de equipamentos de vigilância de última geração, incluindo drones e informantes, muitos dos quais são chantageados ou coagidos a trabalhar para Tel-Aviv.

A falha da inteligência que permitiu o ataque, portanto, é monumental, e promete abalar a fé da população israelense na capacidade do seu governo e do exército de proteger civis.

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+ Reunião do Conselho de Segurança termina sem consenso sobre conflito

O Hamas parece ter planejado esta ofensiva durante meses. A razão pela qual a inteligência israelense não previu a invasão permanece um mistério. Por isso, a organização militante, que governa a Faixa de Gaza desde 2007, mostrou ao mundo que tem mais força do que se pensava. No entanto, não está claro quais podem ser os resultados positivos do ataque para o grupo.

É provável que Israel utilize toda a força do seu poderio militar para sufocar o Hamas, não apenas em Gaza, mas também na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental. Neste processo, é provável que muitos civis palestinos seja mortos, e que casas e infraestruturas vitais sejam destruídas.

+ Netanyahu conversa com Biden e líderes europeus sobre ataques do Hamas

Muitas pessoas em Gaza querem apenas viver normalmente, livres de bloqueios econômicos e repetidas guerras e conflitos. Contudo, outros são levados ao extremismo pela falta de esperança e a miséria que são características da vida na região. Segundo especialistas, esta fatia da população vê a atividade de grupos como o Hamas como a única forma de lutar por um futuro melhor.

No domingo, 8, o Conselho de Segurança das Nações Unidas realizou uma reunião de emergência para discutir a crise. Embora não tenha chegado a uma conclusão, o órgão internacional destacou forças de manutenção da paz ao longo da fronteira Líbano-Israel, para “manter a estabilidade e ajudar a evitar a escalada”.

Uma das maiores preocupações é que o conflito entre Israel e o Hamas, que já acumula mais de 1.200 mortos, possa transbordar para outras partes da região. Em particular, teme-se que o poderoso movimento Hezbollah, do Líbano, se junte ao conflito. O grupo tem apoio do Irã, que também financia e arma o Hamas.

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