Um dos primeiros políticos da direita mundial a comemorar a vitória de Jair Bolsonaro nas eleições de outubro, o vice-primeiro-ministro da Itália, Matteo Salvini, condenou a tortura e os torturadores ao ser confrontado com declarações reiteradas do brasileiro sobre o tema.
“Odeio a tortura e os torturadores”, afirmou, durante entrevista coletiva à imprensa na sede de Roma da associação dos correspondentes estrangeiros na Itália. “Eu condeno a tortura e os torturadores”, insistiu ele, que acumula o cargo de Ministro do Interior.
Líder da Liga Norte, de direita, Salvini elogiou a vitória de Bolsonaro e disse que fará uma visita oficial ao Brasil “no começo do ano que vem”. Mas não confirmou se comparecerá à posse presidencial em 1º de janeiro, em Brasília.
“Tomo nota do voto livre e democrático do povo brasileiro. É curioso que, quando você vota em certa parte, você vota pela democracia, liberdade, futuro, progresso e direitos. Quando você vota contra o politicamente correto, você vota por regressão, fascismo, nazismo, reação, supremacia, etc”, comentou Salvini, com seu tradicional tom irônico.
Em 2016, ao votar pelo impeachment da então presidente Dilma Rousseff, o então deputado federal Bolsonaro homenageou o falecido coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, ex-chefe do DOI-CODI do II Exército, um dos principais centros de repressão, tortura e desaparecimento de opositores durante o regime militar. Em outra ocasião, Bolsonaro mencionou estar em sua cabeceira um dos livros do coronel.
Battisti
O ministro italiano evitou se aprofundar no tema, preferindo reiterar sua expectativa de que o futuro governo brasileiro extradite o ex-militante de esquerda Cesare Battisti, condenado por atos terroristas na Itália nos anos 1970.
A extradição de Battisti chegou a ser autorizada pelo Supremo Tribunal Federal, em 2009. Mas, o próprio STF considerou também que a palavra final sobre o tema caberia ao presidente da República. Em 2010, o status de asilado político lhe foi concedido pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Desde então, os governos da Itália continuam a pedir a extradição de Battisti – tanto os de centro-esquerda como os de centro-direita.
“Seria uma notícia muito boa. Porque isso de um condenado à prisão perpétua gozar a vida nas praias do Brasil me provoca uma ira indescritível”, disse Salvini. “Se, depois de anos de conversa, as autoridades brasileiras ajudarem a Itália a obter justiça, o mérito será do governo e do presidente brasileiro”, acrescentou.
Battisti, de 63 anos, foi condenado à prisão perpétua na Itália por quatro homicídios na década de 1970, pelos quais se declara inocente. Ele passou cerca de 30 anos fugitivo entre México e França, onde desenvolveu uma exitosa carreira como escritor de romances policiais, antes de fugir para o Brasil, em 2004.