A Organização Mundial da Saúde (OMS) informou nesta quarta-feira, 17, que suspendeu os testes com o medicamento hidroxicloroquina, em seu grande estudo de tratamentos para pacientes com Covid-19 , que conta com a participação de vários países. A medida foi tomada depois que os resultados de outras pesquisas não mostraram benefício do medicamento contra malária para tratar a doença respiratória, provocada pelo novo coronavírus.
“O braço da hidroxicloroquina do ensaio ´Solidariedade´ foi interrompido”, disse a especialista da OMS Ana Maria Henao-Restrepo em entrevista coletiva por videoconferência. Essa é a segunda vez que a OMS interrompe os estudos com a droga antimalárica.
O projeto “Solidariedade” da OMS é uma das diversas iniciativas no mundo que buscam testar diversos medicamentos já aprovados e utilizados para tratamentos de outras doenças para averiguar se eles podem ser eficazes contra a Covid-19. Quando uma droga não passa nos testes, ela é descartada e uma nova é colocada no lugar.
A trajetória da cloroquina e da hidroxicloroquina saiu de um debate científico para a politização do medicamento. A droga antimalárica, que demonstrou resultados positivos contra a Covid-19 em estudos preliminares, tem como principal aliado o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que sempre afirmou que ela era uma “grande virada” no combate à doença.
Apesar da defesa de Trump, o uso do medicamento para o tratamentos de pacientes com Covid-19 foi proibido pela Administração de Alimentos e Medicamentos (FDA), órgão equivalente à Anvisa no Brasil. Os estoques do fármaco nos Estados Unidos chegaram às 66 milhões de doses em armazéns federais. Apesar de não ter mais espaço no mercado interno e com países desestimulando, cada vez mais, o uso por pacientes com coronavírus, o presidente americano informou que vai continuar a enviar o medicamento para o Brasil.
Ávido defensor do uso do medicamento, o presidente Jair Bolsonaro insiste no uso da cloroquina como solução para a maior crise sanitária do país, enquanto ataca governadores e prefeitos que tentam implementar o distanciamento social e regras de quarentena. A insistência de Bolsonaro com a cloroquina foi um dos principais fatores que levaram à queda de dois ministro da Saúde – há mais de um mês a pasta é comandada por um interino, o General Eduardo Pazuello.
Na França, onde o controverso professor Didier Raoult é um dos principais promotores da hidroxicloroquina, a permissão para o uso do medicamento foi revogado em 27 de maio. Outros países, como Itália, Egito, Tunísia, Colômbia, Chile, ou El Salvador, também suspenderam o uso da droga em pacientes com COVID-19.
Várias nações já haviam parado de fornecer o medicamento antimalárico a pacientes antes da publicação do estudo. A Suécia, que o utilizou para tratar formas graves da doença, parou de usá-lo em abril, depois que a Agência Europeia de Medicamentos aconselhou administrá-lo apenas em ensaios clínicos. O governo alemão também considera que os estudos atuais não permitem a administração da cloroquina como tratamento.
(Com Reuters e AFP)