ONU alerta para risco de guerra no Golfo Pérsico
António Guterrez chama a atenção para novas formas de autoritarismo e para a divisão do mundo em dois blocos
Ao abrir os debates da 74º Assembleia-Geral, o secretário-geral da Organização das Nações Unidas, António Guterres, alertou para o surgimento de novas formas de autoritarismo e para o risco de um mundo fraturado e avesso ao multilateralismo, com Estados Unidos e China como os novos polos de poder. Chamou a atenção também para um possível conflito no Golfo Pérsico, “cujas consequências o mundo não pode medir”.
“Devemos fazer todo o possível para impulsionar a razão e a moderação”, ressaltou Guterres, diante dos chefes de Estado e de governo reunidos no plenário. “Eu espero que os países convivam em respeito uns aos outros, sem interferir nos assuntos internos alheios”, afirmou.
O secretário-geral afirmou ser inaceitável o ataque às refinarias da Arábia Saudita, há duas semanas. Desde então, o país interrompeu parte de sua produção de petróleo e acusou, respaldado pelos Estados Unidos, o Irã pelos bombardeios. Teerã nega ter participado dessa ação.
Diante do atual impasse, que impede as conversas diretas entre americanos e iranianos, Gutteres disse que tem a esperança de que o Plano Conjunto de Ação Global (JCPOA) seja preservado, dando a entender que os Estados Unidos deveriam honrar o acordo que abandonaram em 2018. Esse acordo de 2015 impediu a evolução dos programas nuclear e de mísseis iranianos em troca da suspensão das sanções americanas a Teerã.
A situação entre os dois países é um dos temas principais desta edição da Assembleia-Geral da ONU. O presidente do Irã, Hassan Rohani, participa do evento e discursará na quarta-feira 25. A esperada reunião entre Rohani e o presidente americano, Donald Trump, foi descartada pelo aiatolá Ali Khamenei, supremo líder do Irã.
Fratura
O secretário-geral expressou seu temor sobre uma possível divisão do mundo em dois blocos econômicos, como deu-se ao longo de quarenta anos do século XX. Sem citar os Estados Unidos e a China diretamente, ressaltou que esse risco de fratura surge no horizonte em um momento de transição e de disfunção nas relações de poder global.
O temor das Nações Unidas é “um mundo dividido em dois, com as duas maiores economias do planeta criando dois mundos separados e em concorrência, cada um com a sua moeda dominante, comércio e regras financeiras, além da própria internet, as capacidades de inteligência artificial, estratégias geopolíticas e militares”.
“Temos que fazer tudo o que for possível para evitar uma grande fratura e manter um sistema universal, uma economia universal com respeito ao direito internacional, um mundo multilateral com instituições multilaterais fortes”, afirmou.
Autoritarismo
Guterres destacou também sua preocupação com as perseguições atuais a ambientalistas, defensores de direitos humanos, jornalistas e outras pessoas desde a ascensão de líderes autoritários no mundo. Não chegou a fazer referência a nenhum deles, em respeito às delegações dos 195 países da ONU.
“Estamos vivendo em um momento de inquietação. Um grande número de pessoas receia ser pisoteada, trocada ou deixada para trás. Novas formas de autoritarismo estão surgindo e o espaço público está diminuindo”, afirmou citando como causa desse medo a industria do petróleo, a automatização do trabalho, os traficantes, líderes de exércitos paramilitares e autocratas em ascensão no mundo.
“Apesar disso, as pessoas ainda acreditam nos ideais que nos fazem juntar nessa assembléia. E é por isso, que nós, os líderes, devemos nos entregar para as pessoas”, afirmou.
O secretário-geral também alertou sobre a mudança climática causada pela humanidade ao citar um encontro que teve com famílias que moram em ilhas no Oceano Pacífico ameaçadas de desaparecer devido ao aumento do nível do mar. Disse que não se deve mais falar em “mudança climática”, mas em “crise climática”, e em vez de “aquecimento global”, deve-se usar a expressão “fervura global”.
Guterres defendeu os direitos humanos, especialmente dos que veem seus lares ameaçados pela elevação das águas dos oceanos, dos sobreviventes do ebola, dos refugiados, das mulheres, das minorias religiosas e de todos os perseguidos. Para eles, esses direitos inatos devem ser protegidos de líderes demagogos. “Esses são direitos, não são um favor a ser recompensado ou retido. Eles são inatos por simplesmente serem humanos”, afirmou.
(Com EFE)