ONU insta governo Maduro a contar votos com ‘transparência total’
António Guterres, secretário-geral do órgão, alertou contra 'interferências' no trabalho das autoridades eleitorais e pediu 'moderação' de todos os partidos
O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, apelou nesta segunda-feira, 29, ao governo de Nicolás Maduro para contar os votos da eleição na Venezuela com “transparência total”, após o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) proclamar o atual presidente reeleito em meio à contestação dos resultados oficiais pela oposição e por grande parte da comunidade internacional.
“Tomamos nota do anúncio feito pelas autoridades eleitorais, bem como das preocupações manifestadas pelos atores políticos e membros da comunidade internacional. O secretário-geral apela à total transparência e incentiva a publicação prontamente dos resultados eleitorais e o detalhamento por colégios eleitorais”, declarou seu gabinete em comunicado.
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Guterres manifestou também sua confiança de que as divergências sobre o resultado publicado pelo regime chavista serão resolvidas de forma pacífica e através do diálogo, enquanto a pressão sobre Maduro cresce com o surgimento de protestos nas ruas de Caracas.
“O secretário-geral confia que todas as controvérsias eleitorais serão abordadas e resolvidas pacificamente e apela à moderação a todos os líderes políticos venezuelanos e aos seus apoiadores. Lembra-se que as autoridades eleitorais devem realizar o seu trabalho de forma independente e sem interferências para garantir a livre expressão da vontade do eleitorado”, completou o texto.
Apelos generalizados
O Centro Carter, principal organização internacional que acompanhou as eleições na Venezuela, também pediu nesta segunda-feira que o CNE publique imediatamente as atas das mesas de votação do pleito de domingo 28. De acordo com a organização, “a informação das atas transmitidas ao CNE é indispensável para nossa avaliação e fundamental para o povo venezuelano”.
The Carter Center calls upon Venezuela’s National Election Commission to immediately publish the presidential election results at the polling station level.
Statement: https://t.co/bKCBIvHpXR
Declaración: https://t.co/D2bF9RfJK6
Continua após a publicidade— The Carter Center (@CarterCenter) July 29, 2024
O Itamaraty foi na mesma linha. Apesar de exaltar o “caráter pacífico” da votação, evitou referendar a vitória do atual presidente, Nicolás Maduro, anunciada na madrugada desta segunda-feira pelo Conselho Nacional Eleitoral e questionada pela oposição.
No comunicado, o governo brasileiro diz que é preciso observar o princípio da soberania popular “por meio da verificação imparcial dos resultados” e que aguarda, “nesse contexto”, a publicação do órgão eleitoral venezuelano de dados desagregados por mesa de votação. Segundo a nota, esse é um “passo indispensável para a transparência, credibilidade e legitimidade do resultado do pleito”.
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O secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, também manifestou “grave preocupação” com a possibilidade de os números oficiais não representarem a realidade, pedindo apuração “justa e transparente”.
“Os Estados Unidos têm sérias preocupações de que o resultado anunciado não reflita a vontade nem os votos do povo venezuelano e pedem que as autoridades eleitorais publiquem uma relação detalhada dos votos”, afirmou Blinken.
O CNE divulgou apenas resultados nacionais, sem desagregação por zona eleitoral, dizendo que Maduro venceu o pleito com 51% dos votos, contra 44% do principal candidato da oposição, Edmundo González. No entanto, pesquisa de boca de urna da respeitada Edison Research, com base em entrevistas com 8 mil pessoas em mais de 100 centros de votação, deu 65% de apoio a González e apenas 31% a Maduro.
Além disso, a líder oposicionista María Corina Machado, declarada inelegível pelo regime chavista com base em acusações nunca comprovadas de irregularidades financeiras, afirmou que, das atas às quais a coalizão de onze partidos que desafiou Maduro nas urnas teve acesso, os dados indicavam que González teria 70% dos votos, contra 30% de Maduro.