A oposição da Venezuela rejeitou nesta segunda-feira, 2, a proposta do Conselho Nacional Eleitoral (CNE) de adiar em quase um mês as eleições primárias, responsáveis por definir o candidato que competirá contra o presidente do país, Nicolás Maduro, nas eleições de 2024. O posicionamento foi emitido através de um comunicado da Comissão Nacional Primária (CNP), que ressaltou que é preciso “manter a data devido ao seu significado e relevância para o sucesso do processo”.
A CNP, encarregada de organizar as eleições internas da oposição, informou que foram realizadas múltiplas reuniões de consulta para analisar a sugestão do CNE, controlado pelo chavismo. O órgão concluiu, então, que as primárias “estão agora na sua fase final, com um calendário próximo de culminar com a realização das eleições no dia 22 de outubro” e que a disputa deve seguir “conforme configurado” previamente.
As autoridades eleitorais procuravam alterar a data para 19 de novembro, sob a justificativa de que somente assim poderiam prestar a assistência técnica adequada para a organização das primárias. A CNP, no entanto, contestou as justificativas e afirmou que a CNE “deixou de responder” aos pedidos de auxílio, enviados à entidade em 5 de junho, após uma demissão em massa do Conselho Administrativo da instituição.
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No documento emitido nesta segunda-feira, a CNP solicitou que cerca de 400 centros de votação, além dos 3.010 já existentes, sejam habilitados para facilitar o acesso às urnas, e reitera que os ministérios do Interior e da Defesa precisam elaborar um plano de segurança para o dia das primárias. Os organizadores também exigiram que correspondentes internacionais e peritos participem do processo eleitoral.
“Se a CNE aceitar estes pedidos, estaria colaborando com as primárias como iniciativa cidadã e democrática, naquilo que nesta altura do processo pode ser benéfico para o seu desenvolvimento e concretização, em benefício da participação política”, conclui a carta.
Favorita nas pesquisas, María Corina Machado (do partido Vamos Venezuela) reforçou o coro à CNP e destacou que a instituição “tem sido muito clara” no planejamento da disputa entre os 12 candidatos de oposição. Ela argumentou que o processo eleitoral “já avançou, muitas pessoas já foram treinadas, o material já está pronto” e que, por isso, “não há mais volta” para a data.
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Machado defendeu que o apoio do CNE poderia ser positivo ampliar do número de centros de votação. A candidata disse esperar que, apesar da censura dos meios de comunicação e da “evidente assimetria” entre as forças chavistas e a oposição, seja possível contornar os obstáculos através da democracia.
“Será um exercício maravilhoso em condições extremas. Aqui não temos nem numa democracia deficiente, estamos na presença de uma tirania (…) que procura, a qualquer custo, impedir que o processo [eleitoral] aconteça”, declarou a pré-candidata à Presidência.
A candidatura de María Corina foi desqualificada em junho pelo regime chavista, que anunciou sua inelegibilidade a cargos públicos pelos próximos 15 anos. Na ocasião, ela afirmou que a decisão “só mostra que o regime sabe que já está derrotado” e quem decide “é o povo da Venezuela”.
“Esta irritante desqualificação é, claramente, uma decisão política do regime, porque todos sabem que isto não tem base legal. Então, temos que tratá-la como tal e, no final, confrontá-la com a força política”, acrescentou ela em entrevista à agência de notícias EFE.