Logo depois da rejeição da maioria do Parlamento britânico ao acordo de Brexit, nesta terça-feira, 15, o líder da oposição trabalhista no Reino Unido, Jeremy Corbyn, apresentou uma moção de censura contra o governo conservador de Theresa May. Em tom desafiante, a própria May assinalou como prioridade, depois da votação, confirmar se tem ou não a confiança do Parlamento.
O debate acontece nesta quarta. Caso a maioria dos 650 membros do Parlamento indique que ainda confia em May, a premiê segue no cargo. Caso contrário, um novo governo deve ser formado num prazo de catorze dias. Se não houver consenso, novas eleições são convocadas.
“Acabo de apresentar uma moção de censura contra este governo (…) para que a Câmara possa dar seu veredito sobre sua incompetência”, anunciou Corbyn logo depois da emblemática votação. “Se a oposição apresentou uma moção de confiança esta noite na forma requerida (…), o governo a colocará em debate amanhã”, rebateu a primeira-ministra.
O acordo negociado por May com a União Europeia foi rechaçado por 432 votos – entre os quais, 118 de seu partido. Apenas 202 votaram a favor. Esta foi a maior derrota da primeira-ministra no Parlamento, que enfrentou e derrubou uma moção de censura movida por seu próprio partido em 2018.
Em discurso, May reconheceu a negativa da casa a seu acordo, mas criticou os legisladores por não terem dito claramente o que apoiam nem como honrarão a decisão do referendo de 2016, no qual a maioria dos eleitores votou pela retirada do Reino Unido da União Europeia.
“As pessoas, particularmente os cidadãos europeus que fizeram seus lares aqui e os britânicos que vivem na União Européia, merecem maior clareza nesses questões o mais breve possível”, afirmou. “Aqueles cujos trabalhos envolvem o comércio com a União Europeia precisam dessa clareza”, completou, antes de dizer como seu governo pretende lidar com a situação.
Se May obtiver o voto de confiança do Parlamento, seu governo irá se reunir com aliados para identificar os pontos que seriam apoiados pelos legisladores. Dado o prazo curto para traçar um novo plano – até a sexta-feira, 18 –, ela propôs que se mantenha o foco em “ideias genuinamente negociáveis e com respaldo suficiente da casa”, que serão depois levadas para a União Europeia.
May enfrentou os opositores ao acordo que negociou com os europeus com duas garantias. “A primeira é para aqueles que temem que a estratégia deste governo é abreviar o tempo até 29 de março. Esta não é a nossa estratégia”, afirmou.
“A segunda garantia é para o povo britânico, que votou para sair da União Europeia no referendo de dois anos e meio atrás. Eu me tornei primeira-ministra imediatamente depois desse referendo. Eu acredito que meu dever é cumprir essa instrução e eu tenciono fazê-lo”, completou.
Mas May poderá também cair. Nesse caso, o processo será conduzido por um novo primeiro-ministro, cujo nome será definido pelo Partido Conservador. O tempo está curto. O Brexit deverá se dar no dia 29 de março e, até o momento, não há sinais de que as 26 nações do bloco venham a concordar com a aventada postergação até o final de maio, quando acontecem as eleições para a Comissão europeia.
As declarações políticas de May, entretanto, ocultam o fato de os parlamentares britânicos terem rejeitado o acordo porque seus termos impõem uma retirada mais flexível do que a desejada por eles. Essa postura tornou-se clara nos debates do caso mais sensível, de preservação temporária do livre comércio na fronteira entre as Irlandas, chamado de “backstop”.
May já havia indicado, antes da votação, sua disposição de renegociar com os europeus o “backstop”, que somente entraria em vigor se não fosse encontrada solução até 29 de março.
Saída desordenada
O Conselho Europeu lamentou o resultado da votação desta terça-feira em Londres, fez um apelo para o governo britânico esclarecer suas intenções sobre os próximos passos e disse que tentará reduzir o prejuízo causado pelo Brexit,.
“Nós continuaremos os preparativos para qualquer que seja o cenário, inclusive para o de não haver acordo”, afirmou o porta-voz do Conselho, Donald Tusk. “O risco de uma saída desordenada aumentou com esta votação e, embora nós não queiramos que isso aconteça, estaremos preparados para isso”.
Em resistência à votação desta terça-feira, o Conselho disse que continuará com o processo de ratificação do acordo negociado entre May e a União Europeia entre seus membros. “Este acordo é e continua a ser a melhor e a única maneira de assegurar uma retirada ordenada do Reino Unido da União europeia.”
(Com AFP)