Opositor russo Alexei Navalny diz estar preso em ‘campo de concentração’
Crítico foi levado sob custódia policial logo após pousar em Moscou, vindo da Alemanha, onde havia sido tratado por envenenamento quase fatal
Feroz crítico ao Kremlin, o opositor Alexei Navalny afirmou nesta segunda-feira, 15, que está detido em um campo de prisioneiros na região de Vladimir, no nordeste da Rússia, conhecida por seu controle rígido. A mensagem foi publicada em sua conta no Instagram.
A localização exata de Navalny era desconhecida, depois que sua equipe jurídica disse na semana passada que ele havia sido transferido da prisão de Kolchugino e que não havia sido informada para onde estava sendo levado.
“Tenho que admitir que o sistema penitenciário russo foi capaz de me surpreender”, escreveu Navalny no Instagram, junto com uma foto antiga com um corte de cabelo curto. “Eu não tinha ideia de que era possível organizar um verdadeiro campo de concentração a 100 km de Moscou”, completou.
Navalny acrescentou que estava na colônia corretiva nº 2 na cidade de Pokrov, na região Vladimir, com a “cabeça recém-raspada”. A advogada do ativista, Olga Mikhailova, confirmou que pôde visitá-lo no local.
Em sua postagem, Navalny escreveu que “as câmeras de vídeo estão por toda parte, todos são observados e à menor violação eles fazem uma denúncia”.
“Acho que alguém leu ‘1984’, do George Orwell, e disse: ‘Sim, legal. Vamos fazer isso. Educação através da desumanização'”, acrescentou.
O opositor disse que ainda não tinha visto nenhum indício de violência na colônia, mas por causa da “postura tensa dos presidiários”, consegue “acreditar facilmente” em relatos anteriores de brutalidade.
No início de março, o ativista Konstantin Kotov, que passou quase dois anos na colônia por violar as regras do protesto, descreveu à agência AFP um ambiente em que os presos não são tratados “como gente”. Em sua postagem no Instagram, Navalny disse que à noite era acordado “a cada hora” por um homem que tirava uma foto dele e anunciava que o condenado, que estava “sujeito a fugir”, ainda estava em sua cela.
Em meados de janeiro, o crítico foi levado sob custódia policial logo após pousar em um aeroporto de Moscou, vindo da Alemanha, onde havia sido tratado por um envenenamento quase fatal com um agente nervoso da era soviética.
O ativista, que ganhou destaque por suas investigações sobre a riqueza das elites russas, insiste que o envenenamento foi realizado por ordem do presidente Vladimir Putin. O Kremlin negou repetidamente a alegação, mas ainda não lançou uma investigação sobre o ataque.
Ele foi condenado no dia 2 de fevereiro a dois anos de 8 meses de prisão devido a um processo criminal de 2014. A Promotoria o acusou de “violar sistematicamente” as condições da pena emitida há cinco anos, defendendo que a sentença deveria ser cumprida. O opositor sempre afirmou que o caso foi “inventado” contra ele para conter suas ambições políticas.
A prisão desencadeou uma onda de protestos em toda a Rússia e uma repressão policial brutal. Os Estados Unidos e a União Europeia pediram sua libertação e, em uma ação coordenada neste mês, Washington e Bruxelas impuseram sanções a altos funcionários russos.